Com homenagem a Marielle e aos heróis “esquecidos”, Mangueira conquista o 20º título no Rio

Atualizado em 6 de março de 2019 às 18:20
Escola verde e rosa levou à Sapucaí o samba-enredo “História pra ninar gente grande” / Mauro Pimentel / AFP

Publicado originalmente no site Brasil de Fato.

A Estação Primeira de Mangueira conquistou, nesta quarta-feira (6), o quarto título de sua história no carnaval do Rio de Janeiro. Fundada em abril de 1928, no Morro da Mangueira, próximo à região do Maracanã, a escola levou à Sapucaí em 2019 o samba-enredo “História pra ninar gente grande” na última segunda-feira (4). A ideia era contar a trajetória de heróis negros e índios esquecidos dos livros e não mencionados na história oficial do Brasil.

Com fantasias vibrantes e alegorias impactantes, a escola homenageou a trajetória de líderes como Luis Gama, advogado abolicionista; Luisa Mahin, ativista participante da revolta dos Malês, e Dandara, líder quilombola esposa de Zumbi dos Palmares, além de tratar de temas como as revoltas indígenas. A comissão de frente retratou os “grandes nomes da história nacional” que, na verdade, tem um caminho forjado por sangue. 

Ao longo do desfile, os carros trouxeram frases como “Ditadura Assassina”, mostraram ex-presidentes como Floriano Peixoto pisando em cadáveres e apresentaram os Bandeirantes como gananciosos que mataram e escravizaram índios em busca de ouro (em vez da imagem de desbravadores que consta nos livros escolares).

A Mangueira também homenageou a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada a cerca de um ano, cujas investigações seguem sem solução. Além de citar o nome dela no samba, no final do desfile uma das últimas alas trouxe diversas bandeiras com o rosto da vereadora em verde e rosa (as cores da agremiação). A arquiteta Mônica Benício, viúva de Marielle, esteve presente na passarela, usando uma camiseta com os dizeres “Lute como Marielle”. O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) e o vereador Tarcísio Motta (PSOL) também participaram do desfile.

Um dos destaques da escola foi a bateria que levantou o público ao utilizar instrumentos característicos de religiões de matriz africana. A ação foi pensada não apenas pela sonoridade, mas para explicitar, mais uma vez, o tom político e social do desfile de 2019, buscando valorizar a cultura afro e criticar o preconceito contra as religiões afrodescendentes.

As escolas Imperatriz Leopoldinense e Império Serrano foram rebaixadas.