O deputado federal Rogério Correia, do PT de Minas Gerais, não dá maiores detalhes, mas o que escreveu no Facebook é suficientemente grave para despertar a atenção de todos.
Ele diz que Sérgio Moro negocia com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos um acordo para permitir acesso aos dados de brasileiros nas redes sociais como Facebook e WhatsApp, sem necessidade de pedido judicial.
Seria uma espécie da institucionalização de um estado controlador da vida de cada um, o famoso Big Brother que aparece no livro 1984, o clássico de George Orwell sobe o totalitarismo.
“Não causa espanto”, disse ele. “Moro sempre andou de mãos dadas com o abuso de poder — agora, quer apenas legalizá-lo”, acrescentou.
Rogério Correia lembrou que foi na calada da noite, em 2016, que o ex-juiz, hoje ministro da Justiça de Bolsonaro, derrubou o sigilo do ex-presidente Lula para divulgar o grampo de uma ligação com a então presidente, Dilma Rousseff.
“O próprio Moro admitiu depois a ilegalidade dessa ação”, destacou.
Para o deputado, é pretexto a alegação de que o acesso aos dados das redes sociais é necessário para combater o tráfico.
No início da Lava Jato, em 2014, ele usou uma denúncia de tráfico para deixar de cumprir uma determinação do ministro Teori Zavascki.
É que o ministro do STF havia mandado soltar os presos da operação, diante da ilegalidade da Lava Jato. Entre eles, estava Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras.
Para sustentar a operação, Moro disse que a Lava Jato tinha prendido também um traficante.
Se a operação fosse anulada e soltasse todos, Moro disse que teria que colocar na rua um integrante do crime organizado.
Todas essas ponderações não foram feitas diretamente por ele, mas por meio de vazamento para o site da Veja e repercussão no Jornal Nacional.
Teori recuou e a operação seguiu seu curso, apesar da ilegalidade flagrante, até hoje não julgada pelo STF.
Como a história mostrou, Moro não estava preocupado com o tráfico, mas com o alcance político da Lava Jato, que criou o ambiente para a derrubada de Dilma, a condenação sem provas de Lula e sua prisão.
Mais uma vez, ele repete a estratégia, na negociação com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
“Sabemos que isso não se trata de combate ao crime organizado, mas sim da aprovação de mais um instrumento de perseguição política do regime extremista de Bolsonaro”, afirmou.
“Pior: tudo negociado com os EUA. Ou seja, FBI e outras agências americanas poderão acessar nosso Whatsapp e Facebook sem precisar de autorização judicial. Isso inclusive rasga o Marco Civil da Internet, legislação que é referência internacional na proteção dos direitos de internautas”, diz.
Rogério Correia é estreante na Câmara dos Deputados e, por isso, poucos o conhecem nacionalmente.
Em Minas Gerais, onde sempre fez política, ele é conhecido pelas denúncias consistentes. Foi ele quem detonou o mensalão mineiro, que levou à prisão de Eduardo Azeredo, depois de receber os documentos do lobista e delator Nílton Monteiro.
Também investigou a Lista de Furnas, depois que a veículos nacionais de imprensa, como a Veja, cravarem que se tratava de um documento falso.
Ele conseguiu com Nílton Monteiro a lista original e a encaminhou para a Polícia Federal, que fez perícia e constatou sua autenticidade.
Por conta dessas denúncias, que envolveram políticos poderosos do Estado, como Aécio Neves, foi perseguido e ameaçado de cassação.
Resistiu, e mostrou que estava certo.
Agora ele investe contra o estado policial de Sergio Moro/Jair Bolsonaro.
Tem chamado a atenção. Tanto que um dos filhos de Bolsonaro, Carlos, lhe fez uma ameaça de maneira velada, depois que Rogério Correia fez críticas a seu pai.
“Teu ‘grito de coragem’ será respondido de outra forma!”, disse o filho do presidente, através do Twitter. “Prepara aí, amigão. Tudo encaminhado!”, escreveu.
Rogério não se intimidou.
“Quando alguém assim me faz ameaças, penso que a resistência é mesmo necessária, apesar dos riscos”, disse.
Que ele aprofunde a investigação sobre as (más) intenções de Sergio Moro.
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Veja também a entrevista de Rogério Correia ao DCM.