Ao tratar Rodrigo Maia como trataram Gustavo Bebianno, e partir com fúria de cristão novo para cima do presidente da Câmara, mandando prender Temer e Moreira Franco, sogro do deputado, Bolsonaro, Moro e et caterva quebraram a sua ‘galinha de ovos de ouro’.
Rodrigo é o mais límpido e confiável representante da direita conservadora que deu o golpe em Dilma e tomou o poder em 2014.
Seu nome sempre foi uma unanimidade no meio político e empresarial.
Ascendeu após o impeachment e tornou-se o “fiador” de Temer no Congresso e nas salas envidraçadas dos RoboCops da avenida Berrini e início da marginal Pinheiros, em São Paulo, que é onde o dinheiro rola e onde são traçados os destinos do país.
Em menos de 100 de governo, Bolsonaro fez uma bobagem atrás da outra.
Estreou assustado comendo sozinho num bandejão em Davos para em seguida proferir um discurso limítrofe de 127 segundos a uma seleta plateia de líderes mundiais.
Ninguém acreditou muito, mas vamos lá, era só o início, não custava dar um desconto.
Vieram então as presepadas em série nos ministérios da Educação, da Família, Meio Ambiente, Agricultura, filhos e ele próprio envolvidos com milicianos e pistoleiros de aluguel, entreguismo imoral aos Estados Unidos, bateção de cabeça no Congresso, um horror.
Só faltava brigar com o queridinho da direita e jogar um balde de água fria na reforma da Previdência, o ‘fio de esperança’ que ainda ligava o capitão atrapalhado ao poderoso e implacável mercado.
E não é que Bolsonaro conseguiu?
Sérgio Moro, outro sem noção que estava no stand by aguardando sua boquinha no STF, inventou de intervir junto ao presidente da Câmara para forçar a tramitação de seu projeto anticrime.
Não satisfeito com a resposta que recebeu – “um copia e cola do projeto do ex-ministro Alexandre de Morães”, disse Rodrigo Maia -, decidiu se juntar aos filhos do presidente e ao amigo Marcelo Bretas para dar um susto no presidente da Câmara.
Conseguiram, naturalmente, afinal mandar prender assim um ex-presidente e seu ministro, com requintes de aventura de filme trash americano, é um fato que chama atenção – e especialmente incomoda.
Esse é o ponto chave da conjuntura: para os padrões da direita que Rodrigo Maia representa, e onde ele se sustenta, Jair, Carlos, Eduardo, Flávio, Moro e Bretas foram longe demais. “Atravessaram a fronteira” para usar uma expressão bastante comum no meio político.
O que fizeram, além de uma nova confusão, foi dividir o campo conservador que afastou a esquerda através de um golpe de Estado, conseguiu a duras penas manter um corrupto notório como Temer no poder e que tentava juntar os cacos para botar pra frente um desastre como esse governo Bolsonaro, ao menos até que a reforma da Previdência estivesse assegurada.
Carlos e Jair mataram Bebianno no ninho com meia dúzia de tuítes disparados do leito de um hospital. Fraco, sem apoio, o auxiliar caiu feito patinho em brincadeira de tiro ao alvo em parque de diversões.
Com Rodrigo Maia é diferente.
Por mais que ele, pessoalmente, seja um rapaz medroso, é preciso encará-lo além do seu perfil pessoal: o presidente da Câmara é, na verdade, instrumento de um grande poder, e ao quebrar esse elo quem pode se arrebentar é Jair.