Antes de encontrar Donald Trump num domingo, 17 de março de 2019, Jair Bolsonaro promoveu um jantar em Washington com figurões da extrema-direita.
Sentado ao lado do presidente, com um paletó bege acinzentado, estava seu guru Olavo de Carvalho.
Do lado esquerdo estava Steve Bannon, ex-estrategista-chefe de Trump, afastado do governo americano.
Bannon aproveitou o encontro para criticar o vice-presidente brasileiro, o general Hamilton Mourão, por ser uma voz “dissonante”.
Chamado pela velha mídia de “escritor”, Olavo foi a real estrela da noite.
“Você é o líder da revolução”, disse-lhe o ministro da Economia Paulo Guedes. Sergio Moro lhe contou que leu seu livro “Jardim das Aflições”.
Antipetista ultramontano, Olavo tem um filho, Davi, que foi aprovado em 2012 para receber o Bolsa Família.
Hoje morador do estado da Virgínia, nos Estados Unidos, o mentor intelectual (sic) do bolsonarismo afirmou no Twitter, em 2015, que o “prato preferido nos jantares de caridade do Bolsa Família” é “mandioca no pirarucu”.
Em outra gravação, Olavo diz que o Bolsa Família é resultado do “endividamento interno” que teria promovido distribuição de renda, e não do avanço do PIB.
Numa gravação de 2017, declarou que o programa é benéfico, mas emendou que foi uma criação de FHC e não de Lula.
Para ter direito ao benefício, a renda do indivíduo deve variar entre R$ 85,01 e R$ 170,00 por pessoa.
Quem teve a inscrição aprovada foi Stephanie Ferro, casada com Davi. Ela era, na época, bacharel em direito, aprovada na PUC do Paraná. Viviam em Atibaia.
A inscrição durou de 2013 até 2016. Nem Stephanie e nem Davi de Carvalho retiraram o dinheiro que foi depositado.
O Ministério Público abriu investigação sobre o caso.
Depois de deixar Atibaia, onde morava e obteve aprovação do Bolsa Família, Stephanie foi morar em Jericoacoara, onde sua mãe, Rosely, tinha uma pousada.
No ano de 2015, o casal passou seis meses dos Estados Unidos. A própria comprovação de que a esposa de Davi de Carvalho frequentou a PUC contradiz os parâmetros de cadastro no programa social.
“Davi é próximo do Olavo, esteve por seis meses nos EUA para aparecer nas filmagens do Jardim das Aflições. Minha mãe contou a história que eles iriam atrás do Bolsa Família, mas eu não dei bola porque achei que não conseguiriam”, diz Heloísa de Carvalho, primogênita de Olavo.
“Depois de divulgar uma carta aberta sobre meu pai nas redes sociais, fui levantar as informações sobre os filhos e encontrei essa confirmação no Portal da Transparência”.
Foi ela quem pediu uma investigação do Ministério Público Federal sobre o caso. “Como eles não sacaram o dinheiro do Bolsa Família, não foi constatado crime”, diz.
Em 26 de junho de 2018, Olavo de Carvalho postou no Facebook uma mensagem da nora Stephanie, esposa de Davi, atacando Heloísa.
“A despeito da minha manifesta preguiça de desmentir pessoas com sérios problemas psiquiátricos, me vi em posição de ter de responder perguntas sobre o Bolsa Família Gate (…)”, escreveu (leia abaixo).
“Nós vivíamos da ajuda de familiares dele e meus, e todos os meus extratos bancários da época podem mostrar que quando recebíamos R$ 500 num mês era muito”, contou.
Na mesma mensagem, Stephanie afirmava que fez a segunda fase da inscrição no Bolsa Família em 24 de fevereiro de 2013, grávida de 8 meses, e em 22 de março de 2013, 10 dias antes do nascimento de seu filho, saiu o resultado com a aprovação.
Em uma live na última terça-feira, 19, junto a seu filho Eduardo, Jair Bolsonaro mencionou uma certa pesquisa encomendada pelo Ministro da Cidadania, Osmar Terra, com 3 mil famílias que recebem Bolsa Família.
“Ele pegou uma garotada de 0 a 3 anos, que foi acompanhada por um tempo, e chegou-se à conclusão que o desenvolvimento intelectual deles, dos filhos de Bolsa Família, equivale a um terço da média mundial”, afirmou.
O DCM tentou ouvir Olavo de Carvalho via email.
“Recebi do Pedro Zambarda de Araújo, do Diário do Cu do Mundo, estas perguntas. Você é idiota o bastante para imaginar que um quarentão pai de dois filhos nada faz sem consultar o papai? Você submete as suas matérias ao julgamento de papai e mamãe?”, respondeu o autoproclamado filósofo.
A respeito da sua mudança de opinião sobre o programa que cresceu nos anos do PT no poder, ele disse: “É proibido mudar de idéia diante de novas informações?”