Moradores denunciam incêndio na favela do Cimento em São Paulo. Por Mídia Ninja

Atualizado em 24 de março de 2019 às 15:50
Barracos foram incendiados em incêndio na Favela do Cimento em São Paulo. Foto: Rachel Daniel / Mídia NINJA

Publicado originalmente no site da Mídia Ninja

Na noite desse sábado, a Favela do Cimento, comunidade que fica na Radial Leste próximo ao metrô Bresser em São Paulo, sofreu com um incêndio que destruiu cerca de 200 barracos de moradores que viviam na região. A comunidade estava com mandado de reintegração de posse forçada emitido pela Juíza Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi, que na sentença deu apenas uma semana para que as cerca de 500 pessoas que ocupavam a área deixassem suas casas.

A comunidade já passava por uma momentos de apreensão com a desocupação, como relatado em reportagem da Ponte publicada horas antes do incêndio. Defensores dos direitos humanos aumentaram o nível da preocupação quando tiveram acesso a uma mensagem que circulou entre o whatsapp de moradores da região avisando que haveria a reintegração de posse com possibilidade de violência.

O fogo começou sem uma motivação clara e há suspeitas de ter sido uma ação criminosa para facilitar o trabalho da equipe que atuaria no dia seguinte. A prática não é nova, já foi inclusive retratada no documentário Limpam com Fogo, de Conrado Ferrato em 2017. O filme denuncia a epidemia de incêndios em favelas na cidade de São Paulo e a relação com a especulação imobiliária. Uma CPI já foi formada na câmara municipal para investigar os Incêndios em Favelas de São Paulo.

O incêndio destruiu casas, pertences e deixou feridos. Um homem deu entrada com 70% do corpo queimado no Hospital Salvalus, na Mooca, às 20:31 de sábado. Além de outros afetados com queimaduras, moradores também relataram que a polícia chegou pouco depois do início das chamas, usaram bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha para dispersão de quem ainda estava no local e policiais da força tática encurralaram e agrediram algumas pessoas.

Segundo levantamento dos próprios moradores, os cerca de 200 barracos de madeira abrigavam aproximadamente 500 pessoas. Desse total, 150 são crianças, 25 são idosos, há seis deficientes físicos e seis grávidas. Padre Júlio Lancelotti também informou que para impedir o despejo ligou diretamente para o Secretário da Assistência Social, José Castro, que não compareceu na ocupação, mas enviou agentes da Assistência Social no final da tarde de sábado, por volta das 16h. Durante a tarde, dois caminhões vazios estiveram na ocupação para levar os pertences dos moradores para o deposito municipal, mas partiram antes das 17h, deixando centenas de moradores sem ter como retirar suas coisas do local.

O Corpo de Bombeiros chegou ao local minutos depois do início das chamas e atuou para apagar o incêndio que atingiu grandes proporções. Assistentes sociais da prefeitura também estavam no local e o contigente de policiais na ação era maior do que o de bombeiros.

A equipe NINJA esteve no local enquanto ainda ocorria o incêndio, conversou com moradores e registrou a ação de agentes da prefeitura que retiravam pertences e demoliam restos dos barracões. Confira nas fotos:

Com ferimentos pelo corpo, moradores denunciam violência da polícia enquanto acontecia o incêndio na comunidade. Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA
Pertences dos moradores já estavam preparados para serem tirados do local devido à ordem de reintegração de posse. Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA
Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA
Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA
Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA
Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA
Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA
Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA
Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA
Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA
Foto: Jorge Ferreira