Publicado originalmente no site Brasil de Fato
O professor de português Marcos Antônio Tavares da Silva, do colégio Liceu de Humanidades de Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro, começou a receber ameaças virtuais depois que trabalhou em sala de aula com uma charge que ironiza a relação entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o presidente estadunidense Donald Trump. Na imagem, os políticos aparecem juntos na cama, com uma bandeira dos Estados Unidos (EUA) ao fundo, e Bolsonaro prestando continência.
Segundo Silva, o material foi divulgado por um dos alunos em um grupo denominado “Direita Campista de Campos”. Depois disso, o professor passou a receber ameaças virtuais e viveu “um dia infernal”. Ele afirmou que a charge, utilizada em uma aula do 3º ano do ensino médio, foi postada na rede social de maneira descontextualizada, dando à charge uma conotação sexual equivocada. “Quem vê as imagens ali entende [que são] figuras de linguagem, de ironia, de deboche, de metáfora. Vai ver que aquilo trata-se da subserviência do Brasil com o governo americano”, disse.
O professor explicou que a proposta era que os alunos identificassem essas figuras de linguagem e disse que utiliza esse tipo de material toda semana. “Eu acho que é um texto completo, é um texto que obriga o aluno a estar dentro, situado dentro do contexto político, econômico, social e cultural, devido à natureza do próprio texto”.
Silva completou dizendo que não houve qualquer tipo de doutrinação: “O aluno fica à vontade para ser contra, para ser a favor da charge, e apenas argumentar”. Informou ainda que vai processar as pessoas que o ameaçaram e alertou para que outros professores tomem cuidado, pois, segundo ele, alunos que fazem parte desse grupo estão em “diversas escolas do estado”.
Um documento divulgado nas redes sociais informa que o professor teria procurado atendimento na Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio de janeiro (Alerj). No relato, Silva teria recebido uma ligação da diretora adjunta da unidade dizendo que ele havia sido afastado a pedido do governador [Wilson Witzel (PSC)]. Depois, teria havido outra ligação da direção da unidade falando que o afastamento se restringiria ao dia 22 para “acalmar os ânimos”. Em áudio divulgado no Whatsapp, o professor nega que tenha sido afastado.
A secretaria de educação do Rio de Janeiro e a direção do colégio não responderam sobre o assunto até o fechamento desta reportagem.