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Ao lado da sua ex-colega de chapa presidenciável Manuela D’Ávila (PCdoB), o ex-ministro Fernando Haddad (PT) participou nesta sexta-feira (5), em Porto Alegre, de atos que marcaram o lançamento da Caravana Lula Livre, promovida pelo partido para defender a liberdade do ex-presidente e para dialogar com a população sobre a agenda de governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Haddad participou de atos na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faced-UFRGS), no Centro e na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (AL-RS).
A caravana foi iniciada pela região Sul do País para marcar o primeiro aniversário da prisão de Lula, completado no próximo domingo (7), quando Haddad e lideranças do partido realizarão atos em Curitiba (PR), onde o ex-presidente está preso. Haddad começou a sua fala na UFRGS, em conversa organizada pelo Diretório Central de Estudantes (DCE) da universidade, ironizando Bolsonaro ao dizer que convidou o presidente pelo WhatsApp para um debate, mas que ele não aceitou, uma referência a ausência do pesselista nos debates eleitorais e ao cancelamento da visita à universidade Mackenzie, de São Paulo, no dia 27 de março. “O Bolsonaro tem medo de vocês”, disse, referindo-se aos estudantes que o acompanhavam na UFRGS. “Ele morre de medo de estudante, de professor, de mulher, de negros, de tudo que não se parece com ele porque ele tem medo da diversidade. Por isso que ele enaltece a ditadura, que é a negação da diferença”.
O petista dedicou boa parte de sua fala de 18 minutos a criticar o presidente e sua agenda econômica. O petista avaliou que a proposta econômica de Bolsonaro é a “agenda do Temer piorada”, dizendo que a reforma da previdência proposta é um “retrocesso de 100 anos”. “Não é pouca coisa você falar para um jovem de 16 anos, que está começando como aprendiz, que ele vai ter que trabalhar 40 anos pra se aposentar”. Haddad atacou ainda o argumento usado pelo governo de que a reforma da Previdência retira privilégios. “ O trabalhador rural é privilegiado? O portador de deficiência é privilegiado? Quem começa a trabalhar com 16 anos é privilegiado? A mulher que faz tripla jornada é privilegiada?”
Por outro lado, Haddad cobrou uma agenda para educação e para o combate ao desemprego do governo federal. “O que ele tem a dizer sobre trabalho e educação? Nós estamos esperando desde o segundo turno. Não veio nada. Veio o Vélez”. O ex-presidenciável ironizou a indefinição Ministério da Educação a respeito da permanência ou saída do ministro Ricardo Vélez Rodriguez e argumentou que as instituições de ensino esperam as diretrizes do governo, não o que o ministro tem a dizer sobre os livros didáticos, uma referência à fala do ministro de que os livros passarão a retratar outra versão sobre a ditadura militar. “Ninguém está interessado na opinião deles, queremos que eles façam chegar o que de melhor o Brasil tem produzido aos estudantes”.
Lula
A parte final da fala de Haddad foi dedicada à defesa do ex-presidente Lula. Ele disse o PT não está defendendo a impunidade, mas que não é possível aceitar que o líder das pesquisas na corrida presidencial tenha sido tirado da disputa “de qualquer jeito”. Para ele, a defesa de Lula é a defesa de uma justiça imparcial. “O pessoal fala de escola sem partido. Eu queria uma justiça sem partido”.
Haddad disse que tem pessoas que falam para ele abandonar a bandeira do Lula Livre e até para trocar de partido, mas que ele irá continuar na defesa do ex-presidente. “O Lula é investigado há 40 anos. Alguém achou uma conta na Suíça? Achou uma mala? Eu posso ficar com 1% de apoio da sociedade que eu vou insistir nessa tese.
O ex-juiz e agora ministro da justiça, Sérgio Moro, também foi alvo de ironias de Haddad. “O Moro postou um calendário. Ele entendeu que aquilo era uma prova. Só prova que ele tem um calendário”.
Antes da fala de Haddad, Manuela defendeu a importância da luta pela liberdade de Lula como uma pauta de toda esquerda, não apenas do PT. Para ela, engana-se quem pensa que a “perseguição ao PT” é a perseguição a apenas um partido, pois esta seria uma perseguição a todo o campo político.
Manuela lembrou que, em 5 de abril de 2018, estava comemorando o aniversário do marido, o músico Duca Leindecker, quando recebeu a notícia de que o agora ministro Sérgio Moro autorizou a prisão do ex-presidente. Logo em seguida, ela viajou ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP), onde Lula permaneceria até se entregar à Polícia Federal em 7 de abril. “Nesse um ano, nós só vimos a história do Brasil piorar”, disse.
Caminhada e ato no Dante Barone
Após a conversa com estudantes na UFRGS, Haddad e Manuela foram ao Largo Glênio Peres, onde, por volta das 18h30, iniciaram uma caminhada em direção à Assembleia Legislativa acompanhados de apoiadores e lideranças do partido, entre elas a presidente nacional da legenda, a deputada federal Gleisi Hoffmann. Durante a caminhada, que durou cerca de 20 minutos pelo Centro de Porto Alegre, os apoiadores alternaram cantos de apoio ao ex-presidente e a Haddad, como “Lula, guerreiro, do povo brasileiro” e “Lula guerreiro, Haddad companheiro”.
A passagem de Haddad culminou com um ato no Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa. Dado ao fato de que o teatro só comporta 500 pessoas sentadas e mesmo que muitos dos participantes tenham ocupado corredores, parte do público acabou ficando do lado de fora da Casa sem conseguir participar.
Em conversa com a imprensa antes do ato, Haddad voltou a defender a necessidade do partido continuar a defender o ex-presidente Lula. “Há um ano está sendo cometida uma injustiça muito grande contra o presidente Lula, talvez o homem mais investigado da história desse País, contra o qual não há uma única prova cabal de qualquer decisão dele que tenha contrariado o interesse público, que é o que pode condenar uma pessoa que exerceu cargo público. Não há um ato dele, um decreto, uma lei que coloque em dúvida toda a dedicação dele ao povo brasileiro. Vai completar e a gente não pode deixar em branco uma coisa dessas. Nós vamos rodar o País para lembrar do que a gente considera uma injustiça e pedir que os tribunais superiores reavaliem a sentença que foi dada. Entendemos que ela precisa ser reavaliada e o Lula colocado em liberdade”, disse.