A gafe de Damares ao “elogiar” Tabata Amaral diz muito sobre ela. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 16 de abril de 2019 às 21:05
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves – Marcelo Camargo/Agência Brasil

Damares não brinca em serviço: se não for pra causar, ela nem comparece às reuniões da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara. Na última, realizada na terça-feira, a Ministra se empolgou e errou rude ao tentar elogiar a Deputada Tabata Amaral. “Que deputada linda. Só de você já estar aqui, não precisava nem abrir a boca.”

???

Essa é a ideia que a ministra da Mulher tem acerca das mulheres: meros bibelôs, que enfeitam o mundo com sua beleza e doçura.

De fato, convém bem mais pra gente como Damares que Tabata fique calada. É muito perigoso quando uma Tabata abra a boca.

Na última vez que aconteceu, ela deu uma aula ao ministro da Educação em uma reunião da Comissão, bombardeando-o com questionamentos para os quais ele simplesmente não tinha respostas, e sugerindo, ao final, que ele se demitisse.

Deusa.

É assim que vivem as mulheres que fazem a diferença: elas não ficam em casa simplesmente exercitando a arte de serem lindas. Elas se levantam e mudam as coisas. Questionam, buscam, trabalham, comandam.

Essas mulheres, as Tabatas, não se contentam com a beleza, porque sabem que as mulheres bonitas são as que lutam, e sabem que as mulheres podem muito mais do que apenas serem lindas e mudas. Essas mulheres são as que politizam sua condição e eventualmente mudam o mundo.

Na mesma reunião, a ministra falou ainda sobre casamento e aborto – uma metralhadora de absurdos. “Dentro da minha concepção cristã, a mulher deve ser submissa ao homem no casamento.”

Desapontada, mas não surpresa.

Afinal, estamos falando da autora da famigerada frase “meninos vestem azul, meninas vestem rosa” – o que esperar?

E tudo bem que, dentro da sua concepção cristã, Damares escolha lavar as cuecas do marido. Cada um sabe de si e eu, particularmente, não tenho nada a ver com isso.

Agora, querer levar a sua “concepção cristã” para a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara, que deve atender aos interesses de todas as mulheres, e não apenas das cristãs, já é vandalismo – ou melhor: é fundamentalismo, mesmo.

Não satisfeita, ela polemizou novamente pra fechar o dia de vexames:

“Tenho tantas coisas para fazer naquele mistério que o tema aborto… eu não vou fazer essa discussão”.

Então tá: uma mulher morre a cada dois dias no Brasil vítima de abortos clandestinos, mas isso não é uma prioridade. A prioridade são os pobres bebês masturbados pelos pais na Holanda.

Meu Deus, estamos presos em um universo paralelo do absurdo?

Damares não é apenas sem noção, ela é completamente descolada da realidade, o que é muitíssimo pior: vive num século que já acabou, pauta-se em valores que já mudaram há muito tempo, tece elogios que há décadas não fazem o menor sentido e quer “salvar”  um Brasil que só existe nos seus delírios.

Ainda bem que pra cada Damares há uma Tabata.