POR MURILO MATIAS
O senador Telmário Mota (PROS-RR) retornou de Caracas após a reunião com o presidente venezuelano Nicolas Maduro e o ministro das Relações Exteriores venezuelano Jorge Arreaza na segunda-feira com a notícia da reabertura da fronteira entre os países, fechada desde fevereiro.
A disposição dos venezuelanos para o diálogo contrasta com a postura de Bolsonaro, que não hesita em flertar com a possibilidade de conflito armado contra os vizinhos.
Mota falou ao DCM:
DCM – Qual a importância de sua visita à Venezuela na condição de representante do Parlamento brasileiro ao estabelecer diálogo?
Conversei bastante com o presidente Nicolás Maduro e com o ministro das Relações Exteriores Jorge Arreaza.
O Brasil não tem tradição e não deve interferir na política interna de outras nações, assim como não aceitamos que interfiram na nossa soberania, embora o presidente Bolsonaro esteja ajoelhado para Trump e Mike Pompeo (secretário de Estado dos EUA).
Presido a subcomissão que trata do tema da Venezuela e além de ouvir o chanceler Ernesto Araújo, o ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, os embaixadores do Brasil, pedimos o diálogo com as autoridades venezuelanas, que concordaram em nos receber.
Inclusive a Venezuela disponibilizou o transporte para que eu chegasse a Caracas a tempo do encontro.
Como qualifica a postura do governo federal?
O governo teve erros diplomáticos ao reconhecer um presidente que não foi eleito pelas urnas (refere-se ao autoprolamado Juan Guaidó). Outro equívoco foi oferecer uma pseudo ajuda humanitária com um caminhãozinho.
Os Estados Unidos usaram o Brasil e a Colômbia para incitar a guerra em nossa região, tudo pela geopolítica.
Quais as consequências dessa postura para brasileiros e venezuelanos que vivem em Roraima?
Quando começou a crise da Venezuela, ao invés de ajudar como fez no Haiti, o governo brasileiro trouxe a questão para dentro de Roraima, que não tem infraestrutura para aguentar uma migração tão grande. Éramos 500 mil e fomos para 600 mil.
Faltam emprego, saúde, educação e a violência aumentou em 50%. As aulas na área rural nem começaram, o transporte escolar está afetado, são 500 cirurgias pendentes, as eletivas estão suspensas, os terceirizados não foram pagos.
Como se dará a reabertura da fronteira e a estabilização da questão energética?
Está se criando um grupo de trabalho para ajustar algumas coisas para reabrir a fronteira dentro de uma semana.
Os caminhões já estão lentamente entrando e o presidente Maduro ficou sensibilizado com o tema energético e regular essa questão, assim que normalizar a estrutura interna uma vez que o país enfrentou 13 blackouts recentes, o governo alega que houve sabotagens.
Muito se fala na crise migratória causada pela chegada de venezuelanos ao Brasil, porém não se mencionam os prejuízos que o estado de Roraima sofreu com o fechamento da fronteira.
O senhor pode falar sobre esses problemas?
Mantendo a fronteira fechada a crise tende a piorar, além de não evitar a migração.
Ao contrário, venezuelanos vêm clandestinamente pelas mãos de coiotes e não passam pela alfândega. Não fazem exame de antecedência e tem a questão sanitária, colocando em risco a saúde e a vida do povo.
A energia, as importações e exportações estão suspensas, tínhamos 85 caminhões parados. Quando chega a noite, nosso estado não tem interligação com o Brasil.
Ficamos isolados e dependemos 80% da energia que vem da Venezuela. Somos o único estado nessa condição.
53% do que vendemos vai para os venezuelanos e importamos calcário e ferro. Temos muitos universitários brasileiros que moram lá. Enfim, uma relação salutar.
Como era a relação na época em que havia maior alinhamento e parcerias estratégicas entre Brasil e Venezuela?
Existe uma relação cultural, social e de políticas públicas há mais de cem anos. Uma relação pacífica e harmônica. Além do tema comercial: em 2012 o Brasil exportou 5 bilhões para a Venezuela e importou 1 bilhão, de lá pra cá houve uma queda contínua até que em 2018 a exportação foi de 576 milhões e as importações de 176 milhões, apenas 400 milhões de superávit.