É o que disse – melhor, gritou — Feliciano, o Profeta do Ódio.
Segundo o versículo 35, capítulo 57, do Livro de Juvenal, tudo o que é ruim sempre pode piorar.
Um vídeo foi desencavado de um culto de Marco Feliciano em que ele, possuído, grita que Deus matou John Lennon.
“John Lennon chegou um dia, bateu no peito e disse: ‘Nós, Beatles, somos uma nova religião’. Passou algum tempo e ele está entrando no seu apartamento, ele vira e é alvejado com três tiros no peito. Eu queria estar lá nesse dia. Ia tirar o pano de cima e ia dizer: ‘Me perdoe, John, mas esse tiro é em nome do pai, esse em nome do filho e esse em nome do espírito santo’. Ninguém afronta Deus e sobrevive para debochar!”.
Feliciano não é apenas uma piada sem graça, não é só um pastor ignorante falando bobagem. Em sua louca cavalgada, ele é a face do ódio, da intolerância, da discriminação, da loucura. É um assombro que tanta gente o siga. É um assombro que, durante o tal culto, as pessoas levantassem a voz, urrando em concordância, como num circo romano, como numa execução em praça pública, enquanto ele prosseguia com o linchamento de um homem que foi assassinado covardemente quando chegava em casa. É um assombro que ele tenha reduzido o número de tiros, em seu discurso, para fazer uma analogia rasteira e degenerada com a santíssima trindade.
Essas barbaridades já são ditas há muito tempo. Ficamos sabendo delas, agora, porque o pastor deputado foi parar numa comissão da Câmara e isso lhe deu visibilidade.
Ele adora a morte. Ele se regozija com o sofrimento alheio. Ele é dissimulado, sádico e desumano. Ele é autoritário e se faz de vítima. Ele é a volta às cavernas.
Feliciano é a face do fundamentalismo religioso brasileiro, é a anticivilização. É também um caso clássico de autoódio. Sua mãe, que é negra, realizava abortos. Feliciano, que é racista, alisa os cabelos, tira a sobrancelha e procura ficar mais branco. Sua homofobia diz muito sobre ele. Sua imensa raiva por si mesmo é o que o move.
Feliciano, o falso profeta, eleito por mais de 200 mil pessoas, será reeleito em 2014. O presidente de seu partido, o PSC, acha que ele terá o dobro de votos. Tudo apoiado na sua interpretação doentia da Bíblia, o único livro que leu e que sabe de cor — pelo menos, os piores trechos. “O diabo pode citar as escrituras quando isso lhe convém”, escreveu Shakespeare.