Pior que a Globo mandar ignorar a entrevista de Lula é seus jornalistas obedecerem quietinhos. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 30 de abril de 2019 às 9:44
Corajosos, desde que seja contra Lula

Há algo pior, moralmente, que o fascista: é o sujeito que obedece o fascista (Eichmann repetia que “só cumpria ordens”). 

A decisão da Globo de ignorar a entrevista de Lula ao El Pais e à Folha é uma confissão de morte do jornalismo e, figurativamente — não literalmente, viu, Cartuxo —, de seus jornalistas.

Foi notícia no mundo inteiro por motivos óbvios.

Segundo Cristina Padiglione em sua coluna Telepadi, profissionais da casa contaram que “houve uma orientação da direção da emissora para que não se repercutisse” o material.

“A recomendação chegou sem justificativas”, diz ela.

A Globo, como era de se esperar, negou tudo, sem explicar por que passou batido pelo tema.

Não há qualquer justificativa jornalística. 

New York Times, Washington Post, CNN, Le Monde, The Guardian, Financial Times etc etc estão errados e os Marinhos estão certos.

Então tá.

É questão política. Ponto.

Onde estão a independência e a coragem de gente como Míriam Leitão (que deu para fazer crônicas insuportavelmente piegas sobre sua carreira), Merval Pereira, Gerson Camarotti, Andréia Sadi, Renata Lo Prete?

Onde a festejada combatividade de Bernardo Mello Franco? Nem uma mísera notinha de Ancelmo Gois? Chico Pinheiro?

Nem um pio.

Pacto de silêncio que ninguém fura porque, sabe como é, a vida anda dura.

No máximo, uma charge meia bomba de Chico Caruso mostrando Lula fantasiado de Super Homem na prisão, que ninguém entendeu, provavelmente fruto de uma negociação penosa entre o editor do Globo e seus chefes.

Globo e Record estão do mesmo lado, é bom lembrar, e seus jornalistas fazem o que mandam, bonitinhos.

Como ensinou o capitão Bolsonaro a seus ministros: “Ou segue a minha linha ou fica em silêncio”.

Talquei?