PUBLICADO NO TIJOLAÇO
A justificativa da ditadura militar para a perda das liberdades públicas era o progresso do país, ainda que deformado e não distribuído.
Aliás, perda de liberdades que não impediu – nem o poderia – o Brasil de acompanhar as mudanças culturais do mundo no final dos anos 60 e nos 70.
Do ponto de vista econômico, porém, o regime de exceção do Brasil pós-golpe, agora “legitimado” pela eleição, em condições anormais – recordemos que havia um “cassado” que a venceria, se competisse – não tem o que a ditadura tinha: um projeto nacional que, certo ou errado, mirasse um Brasil desenvolvido.
A menos, claro, que se considere o bloqueio das bananas equatorianos ou a venda de abacates aos argentinos como sinais de vitalidade da sétima ou oitava economia do mundo.
O “não-programa” econômico de Jair Bolsonaro -a expressao é do mestre Janio de Freitas – é, ao contrário, um projeto de retrocesso nacional. Fechar, desmontar, vender, no Governo Fernando Henrique, podem – apesar dos efeitos desastrosos de médio e longo prazo – ter significado o ingresso de capitais que ajudou a manter um ciclo de estabilidade monetária de certa duração, num país traumatizado há uma década pela explosão da inflação.
Agora, nem isso, ou muito antes pelo contrário, pois todos os sinais são de um recrudescimento da inflação que, com a divulgação do IPCA de abril, nos deixará com um índice acumulado em 12 meses de 5%. Numa cesta de 34 países, abaixo, apenas, da Índia, da Rússia, da Turquia e da Argentina.
Destes, só os dois últimos não têm taxas expressivas de avanço do Produto Interno Bruto que compense a perda de poder de compra da moeda. No nosso caso, vamos “avançando” para uma expectativa de expansão do PIB perto do zero.
A resposta do governo, em política econômica, não vai além do “paraíso” prometido da reforma previdenciária – que, independentemente de outras considerações – tira dinheiro do mercado e uma vaga liberação da burocracia para a implantação de uma “Lei de Murici”, aquela onde cada um cuida – e improvisadamente – de si.
O resto é a cartilha neoliberal de empurrar a economia para baixo esperando que um “efeito-mola” faça a atividade econômica voltar a subir. O problema é que desde Joaquim Levy se está fazendo isso e empurrar para baixo agora é forçar o fundo do poço a baixar mais.
O retrocesso político do Brasil, assim, vai tomando as feições também de um agravamento da crise econômica.
O “jingle” do título, contrariando a versão que nos apresentaram no “milagre brasileiro” cada vez mais se parece com a cantoria que percebemos na economia do país.
Já não é só a perda das expectativas de progresso que nos animaram durante os dez anos entre 2004 e 2014. É a sensação de que o governo brinca com quinquilharias, enquanto a tempestade está se armando, e já bem perto.