As definições de vergonha alheia foram atualizadas com sucesso por Luciana Gimenez.
Na última edição de seu programa de entrevistas na RedeTV, o Luciana by Nigth, ela entrevistou Jair Bolsonaro, e o resultado é de enrubescer qualquer brasileiro.
Embora o mundo inteiro tenha conhecimento do caos generalizado em que se transformou o governo Bolsonaro, a apresentadora – uma guerreira, não podemos negar – fez malabarismos inacreditáveis para tentar fazer parecer que o entrevistado era um político competente (um grande desafio, reconheçamos).
Evitou os assuntos mais polêmicos e espinhosos dos últimos 100 dias de governo – e de toda a vida pública de Bolsonaro, uma metralhadora de gafes e polêmicas – e focou em tudo que ninguém se importa: os esportes que ele pratica, sua vida familiar e a vida íntima com Michelle.
A rasgação de seda é tão forçada que, por vezes, o próprio entrevistado parece constrangido.
“Eu sou fã da Michelle”, dispara Luciana diversas vezes durante a entrevista, ao que Bolsonaro responde com um sorriso amarelo.
Não que Lu Gimenez tenha lá um passado de glórias, mas forçar intimidade em rede nacional com o homem que foi eleito o político mais abominável do mundo é definitivamente o fundo do poço.
A entrevista serve basicamente para que a apresentadora teça elogios forçados ao entrevistado – péssima utilidade para se dar a uma entrevista – e relativize o completo fiasco. Até para um bolsominion deve ser difícil engolir tamanha enganação.
Ao comentar que “as pessoas só falam das coisas ruins do governo”, ela questiona o entrevistado sobre as coisas positivas de seus primeiros meses de mandato. “A escolha dos ministros”, ele responde.
Risos.
Se a escolha dos ministros é a melhor coisa desse governo, não tentemos imaginar qual seria a pior.
Os ministérios do governo Bolsonaro mais parecem antros de subcelebridades e gente com o passado obscuro – aliás, faltou Lu Gimenez pra completar o time.
Ao mencionar a filha de Bolsonaro, ela parece não lembrar que, pra ele, a menina é só uma “fraquejada”. Ignora essa parte e só pergunta como é pra ele ter uma filha menina em casa.
“É bem diferente, não dá pra soltar palavrões.” E ambos riem em uma “diversão” tão forçada que chega a enojar.
Falando sobre o exército, ela também ignora o fato de ele ter sido expulso pelos militares por má-conduta, e conduz a conversa como se estivesse entrevistando um militar exemplar. Ele aproveita: “até hoje vivo para o exército.” Ué?
Pra fechar a conta, ambos concordaram que “o racismo é uma coisa rara no Brasil.” Aham. Senta lá, Cláudia.
Um músico preto fuzilado pelo exército brasileiro na frente de sua família em um país que não é racista. Quem ouve essa afirmação e não se sente minimamente revoltado não vive no mesmo Brasil que eu.
Na verdade, a conversa entre a apresentadora e o militar reformado sequer deveria ser denominada entrevista: no fim, é apenas um blablablá de faz de conta que serve para que uma apresentadora socialite lamba as botas de um político com uma vida pública de sucessivos fracassos.
Quem, afinal, leva a sério a opinião de Luciana Gimenez? Uma besta completa e acrítica, que sempre viveu em seu mundo de milionários e affairs com celebridades e agora surfa na onda do Bolsonarismo.
Detestados pelo resto do mundo, resta à cada vez mais limitada cúpula de ultraconservadores brasileiros legitimarem a si mesmos.
Luciana Gimenez e Jair Bolsonaro definitivamente se merecem.