Assessores de Flávio Bolsonaro investigados por suspeita de lavagem de dinheiro têm uma franquia da Kopenhagen em nome deles. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 18 de maio de 2019 às 12:12
Flavio e o shopping Via Brasil

A quebra dos sigilos bancário e fiscal de assessores e ex-assessores de Flávio Bolsonaro pode revelar muito mais do que a prática da chamada rachadinha, apelido que os políticos cariocas dão a uma modalidade do crime de peculato — no caso, a transferência de parte dos salários pagos com dinheiro público para a conta do filho de Jair Bolsonaro.

É que pelo menos dois deles atuam no mesmo ramo de atividade empresarial de Flávio. Victor Granado Alves e Mariana Teixeira Frassetto Granado, que eram lotados no gabinete dele na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, são donos da Damas de Chocolate, a pessoa jurídica por trás de franquia da Kopenhagen no shopping Via Brasil em Irajá, no Rio de Janeiro.

Flávio Bolsonaro é dono de uma franquia da Kopenhagem em um shopping na Barra da Tijuca.

Pode ser apenas coincidência que ele e dois ex-subordinados atuem no mesmo ramo de negócio, com contratos com a mesma franqueadora, mas é um fato que merece atenção dos investigadores.

Não é exagero suspeitar que Victor e Mariana sejam laranjas de um esquema maior, levando-se em consideração que o Ministério Público do Rio de Janeiro apura indícios de que assessores nomeados por Flávio Bolsonaro tenham sido usados para a prática de lavagem de dinheiro.

Se não houvesse essa suspeita, os sigilos não teriam sido quebrados, inclusive os dos donos da Kopenhagen no shopping Via Brasil.

Se Mariana e Victor Granado eram proprietários de uma franquia, por que precisariam ocupar cargo político?

Mariana chegou a ser nomeada para a assessoria de Flávio Bolsonaro no Senado, mas a portaria de sua nomeação como secretária parlamentar foi tornada sem efeito no dia 28 de fevereiro, depois que o Supremo Tribunal Federal autorizou a investigação no Rio de Janeiro.

No dia 15 de março, ela voltou a ser nomeada no gabinete de Flávio Bolsonaro, desta vez para o cargo de assessora parlamentar.

Victor, sócio de Mariana na Kopenhagen, não foi nomeado para o Senado, mas mantém uma ligação muito próxima com o ex-chefe e também com o pai deste, Jair.

Mesmo quando era funcionário público, ele atuava na defesa de Jair Bolsonaro em processos que não têm nenhuma relação com a atividade parlamentar.

Victor foi advogado de Bolsonaro na ação movida para anular a multa aplicada a Bolsonaro por causa de pesca ilegal em Angra dos Reis.

Ele também defendeu a mulher de Flávio Bolsonaro, a dentista Fernanda, num processo que buscava anular a multa aplicada pela Polícia Militar porque ela se recusou a fazer o teste do bafômetro em uma blitz no Rio de Janeiro.

Bolsonaro e os filhos costumam alardear que são defensores dos valores da família brasileira. Nos gabinetes do clã, irmão e irmãs, pais e filhos, nora e sogra dividem a mesma portaria de nomeação — para não dizer espaço, já que há indícios de que muitos são fantasmas.

Os negócios fora do serviço público também são conectados — vide o cheque de Queiroz depositado na conta de Michelle Bolsonaro.

A investigação do Ministério Público pode revelar que a família a que os Bolsonaros fazem referência seja, na verdade, “famiglia”.