Em artigo publicado hoje no Globo, a jornalista Miriam Leitão diz que Jair Bolsonaro não sabe governar e lembra que ele já demonstrou incapacidade política quando era deputado.
“Durante os anos em que foi parlamentar, Jair Bolsonaro não presidiu comissão, não relatou qualquer projeto, nunca liderou grupo algum. Ele não se interessava pelas matérias que passavam por lá, concentrando-se em questões do seu nicho. Sua preocupação era apenas a defesa dos interesses da corporação dos militares e policiais. Afora isso, ofendia colegas que considerasse de esquerda e dava declarações espetaculosas para ocupar espaço no noticiário. Com esse currículo ele chegou à Presidência. Hoje, não entende nem os projetos que envia ao Congresso, como se vê diariamente nas declarações que faz”, afirmou.
É tarde para fazer essa constatação, já que é o tipo de análise que poderia ter sido feita no ano passado, quando o mercado — para quem ela escreve — se entusiasmou com sua candidatura.
Cada vez que ele ganhava alguns pontos na pesquisa, a Bolsa também subia e o dólar caía. Era a hora de informar o mercado que Bolsonaro seria um desastre.
Mas não. A empresa em que Miriam trabalhou a favor de Bolsonaro.
Por exemplo, cancelou o debate do segundo turno depois que Bolsonaro, apesar de liberado pelos médicos, decidiu não comparecer.
Alegou que Bolsonaro não havia assinado carta de compromisso de participação e que, por isso, estaria desobrigado de comparecer.
Poderia ter colocado Fernando Haddad e uma cadeira vazia, com o candidato do PT respondendo a perguntas de jornalistas ou do público.
Mas não.
Facilitou a vida do então candidato.
Em vez de auto crítica, Miriam agora critica outros apoiadores.
“A direita que o defendeu, e se surpreende agora com o péssimo desempenho da sua administração, demonstra, no arrependimento, a qualidade do próprio voto. Houve opções à direita que não colocariam o país nesta brutal incerteza em que se encontra”, escreveu.
A jornalista constata o óbvio:
“O fato é simples: o presidente Bolsonaro não sabe governar. É essa a razão da sua performance tão errática nestes quase cinco meses. Sua relação tumultuada com o Congresso não deriva de uma tentativa de mudar a prática da política, mas da sua falta de aptidão para qualquer tipo de diálogo. Não sabe ouvir, não entende os projetos, não tem interesse em estudá-los. Repete frases feitas, porque são mais fáceis de decorar, como: ‘Tirar o governo do cangote do empresário’, ’empresário no Brasil é herói’. E outras monótonas repetições'”, destacou.
Por fim, Miriam comparou Bolsonaro ao que acontece na Venezuela:
“Lembra o chavismo, movimento iniciado por um coronel autoritário e que governou sempre convocando manifestações a favor do seu governo e demonizando todos os que se opunham aos seus métodos e decisões. Nada mais parecido com Hugo Chávez, em seu início, do que Bolsonaro. Como Chávez e seu sucessor Maduro, Bolsonaro quer seus seguidores nas ruas, e nas redes sociais, constrangendo os políticos, os juízes e a imprensa, para culpá-los pela própria incapacidade de governar.”
Tarde demais.
A eleição de Bolsonaro mostrou que mercado é um péssimo sinalizador para o que é positivo para o Brasil, e os jornalistas da velha imprensa não cumprem o seu dever de informar e analisar corretamente.