Publicado originalmente no site Os Divergentes
POR HELENA CHAGAS
O principal destinatário do recado do ministro Paulo Guedes de que deixa o governo se a reforma da Previdência virar “uma reforminha”, dado em entrevista à Veja desta semana, não é, como parece, nem o mercado e nem o Congresso. É, acima de todos, o próprio presidente Jair Bolsonaro, em quem a equipe econômica não está sentindo a firmeza que gostaria de ver em relação à proposta que tramita hoje na Câmara.
A semana, marcada pelas idas e vindas em torno da votação da medida provisória 870, mostrou que, assim como deixou na mão seu ministro da Justiça, Sérgio Moro, aceitando a transferência do Coaf para a Economia, Bolsonaro estaria pronto a fazer o mesmo na negociação da Previdência. Ou seja, aceitar um projeto que renda bem menos do que o R$ 1 trilhão de economia previsto na proposta de Guedes, algo em torno da metade disso.
Há fortes sinais de que isso vá acontecer. Nas palavras de um importante cacique do Congresso, o establishment político ainda não entendeu por que o mercado e o PIB, que há um ano batiam palmas e mostravam que ficariam muito satisfeitos com a aprovação da reforma previdenciária de Temer – que renderia algo em torno de R$ 500 bilhões – agora subiram o sarrafo para uma economia que seria mais do que o dobro disso.
Segundo eles, não dá para sustentar o tudo ou nada – ou o R$ 1 trilhão ou nada – que tornou-se o eixo da argumentação de Guedes. Nessa avaliação, dominante em boa parte dos maiores partidos, seria possível resolver o problema com menos, e reduzir o sacrifício de alguns setores com uma reforma menos drástica. Acham também que não será difícil conquistar o apoio do presidente da República para essa reforma não tão radical.
Ao deixar claro, portanto, que irá embora se o Legislativo lhe der uma reforma menor do que R$ 800 bilhões, Guedes estaria buscando pressionar o próprio Bolsonaro, com a ajuda do mercado e das forças liberais que o apoiam, para não ceder demais.
Há quem afirme, porém, que o ministro da Economia estaria, de fato, começando a “costear o alambrado”, para tomar emprestada e expressão de Leonel Brizola. Diante do cenário de uma economia que continua anêmica sobretudo em função da instabilidade política criada pelo próprio governo, num processo que leva jeito de não ter conserto, Guedes estaria repensando suas escolhas. Com destaque para a frase infeliz de que, se isso acontecer, vai “morar fora”…