POR TIAGO BARBOSA
A vitória do filme pernambucano Bacurau, em Cannes, é a bofetada da cultura no governo Bolsonaro e um antídoto à peste obscurantista instalada no Brasil.
O governo refratário a artistas e professores, capaz de mutilar a educação com cortes ideológicos e extinguir o ministério da Cultura, precisa engolir a reverência do mundo aos talentos nacionais.
À consagração literária de Chico Buarque no Camões, o presidente ficou indiferente. À façanha dos pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dorneles, deve torcer o nariz.
Não é só esnobismo. É inveja, ressentimento e burrice em estado bruto.
O prestígio desfrutado pelos artistas brasileiros contrasta com o total desprezo internacional conferido ao pária Bolsonaro, ser medíocre intelectualmente, limítrofe e alçado ao cargo pela combinação abjeta de ódio, fake news e torpor coletivo.
A glória conquistada no principal festival de cinema no mundo só realça a distância entre o Brasil bem-sucedido e o presidente fracassado e o consolida como a treva diante da luz, a antítese da criatividade, dos ventos civilizatórios.
A arte desconstrói, assim, a perseguição deflagrada pelo conceito oco de marxismo cultural e outros penduricalhos caça-otários para mostrar a todos como é necessário respirar resistência em meio à asfixia de uma atmosfera imbecilizante.
Outra narrativa é sempre possível.