Ciro Gomes não é apenas destemperado: com ódio, se tornou perigoso. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 29 de maio de 2019 às 17:15
Ciro Gomes, num dos momentos de descontrole

Depois da confusão que gerou ontem, no debate da Universidade Federal de Pernambuco, Ciro Gomes se descredenciou não apenas para ser presidente da república, mas também para participar de qualquer encontro em ambiente civilizado.

A praia dele é o bolsonarismo, senão no conteúdo, pelo menos na forma. No campo progressista, a atuação dele tem servido para dividir, não para somar, o que é crucial para enfrentar a ameaça representada por Bolsonaro ao que nos restou de democracia.

Além de agressivo, demonstrou que gosta de intriga. A deputada Maria do Rosário pedia a ele que se empenhasse na unidade, e Ciro respondeu cutucando uma ferida interna do PT, que foi a aliança com o PSB em 2018, que custou a candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco.

Ciro, naturalmente, nunca se lixou para a candidatura de Marília Arraes, na época vereadora, hoje deputada federal pelo PT, mas ficou revoltado com o fato de que essa aliança retirou dele a possibilidade de contar com o apoio (e o tempo de televisão) do PSB para sua candidatura a presidente.

O PT fez política, em nome da candidatura de Lula (ou de alguém que Lula indicasse), mas Ciro até hoje parece acreditar que o PT devia abrir mão de suas possibilidades eleitorais para deixar o caminho livre para ele próprio fazer acordo com o PSB.

No mundo real, de acordo com a lógica política, não é assim que funciona. Ciro sempre foi candidato de si mesmo, e acha que todos devem pensar e agir como ele. Partido, para ele, parece ser apenas uma legenda. Não fosse assim, não teria passado por sete partidos ao longo da vida.

Ciro também tentou colocar Marcelo Freixo, do PSOL, no seu jogo de intriga. Dirigindo-se a Maria do Rosário, disse, sempre num tom de voz elevado:

“Quantos votos o PT apalavrou para dar ao Marcelo Freixo para a presidência da Câmara e quantos deu?Eu conheço vocês… É a realidade. Unidade é o cacete, eu conheço vocês!”, gritou ele.

Maria do Rosário, momentos antes, tinha discursado e defendido a unidade do campo progressista.

Ciro Gomes foi, então, repreendido por uma pessoa do público, que seria um coronel da reserva, ex-comandante da Polícia Militar de Alagoas, que entendeu a frase como desrespeitosa a Maria de Rosário — e foi mesmo.

Ciro tentou explicar que cacete, no Ceará, tem o sentido de pedaço de pau. Se fosse a qualquer dicionário, veria que não apenas. O sentido, neste caso, é outro, é chulo. Ele poderia ter dito “unidade é o c…”

Ciro então começou a bater boca com o coronel.

“Eu estou desrespeitando a mulher? (…) Bota esse dedo no bolso, rapaz. Bota esse dedo no bolso, seu bosta. Bota esse seu dedo no bolso, seu merda”, gritou, com o dedo apontado para quem discordava dele.

Sob vaias, Ciro Gomes chamava o homem para a briga. “Vem aqui”, bradou.

O debate fez parte do I Congresso Nacional dos Policiais Antifascismo, que termina hoje. Ciro Gomes saiu do tema, estragou o encontro e acabou não concluindo sua fala, de resto repleta de ironia e ataques ao PT e, indiretamente, a Lula.

Quando muitas pessoas se retiravam, outras estavam próximas da mesa, ele ainda xingava, como se estivesse numa reunião do PSL de Bolsonaro.

“Palocci é ladrão, Palocci é ladrão”, gritava.

O que Palocci, que foi seu colega de ministério, tem a ver com o tema da noite, a questão da segurança pública? Nada.

Ciro Gomes tem um problema, e não é apenas descontrole. Com sua mágoa, que parece ter se transformado em ódio, ele se tornou perigoso.

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O lamentável episódio começa mais ou menos a 2 horas e 30 minutos do vídeo.