Publicado originalmente no blog do autor
POR MOISÉS MENDES
Já li e reli umas quatro vezes, mas não acredito no que leio. Não acredito que Bolsonaro recebeu hoje, para um chá da tarde, o desembargador Victor Luiz dos Santos Laus, que assumirá a presidência do Tribunal Federal da 4ª Região em Porto Alegre.
Laus participou do julgamento dos recursos do processo que condenou Lula pelo tríplex do Guarujá e irá presidir o TRF4 durante os julgamentos de outros processos, incluindo o do sítio de Atibaia.
Não imagino que essa visita pudesse ser vista com naturalidade num país sob normalidade. Nem na Alemanha, na Argentina, na Bélgica, na França, na Ucrânia. Nem na Venezuela que a direita odeia tanto.
Bolsonaro chamou o desembargador, como chamou hoje os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo para um café, ou o desembargador tomou a iniciativa da visita?
Eu, como cidadão, considero constrangedor que um juiz que reafirmou a condenação do maior adversário político de Bolsonaro (e que irá presidir o tribunal que continuará julgando esse adversário) se reúna com Bolsonaro.
Parece que está tudo liberado, mas não é normal. Podem dizer que é da liturgia dos cargos e da convivência das autoridades e das instituições.
Visitar Bolsonaro é tudo que não deveria ser feito por um juiz que julgou Lula e que preside o tribunal que continuará julgando Lula.
Como esse tipo de visita de presidente de tribunal regional não é comum (e nunca será, nessas circunstâncias), tenho o direito de dizer que me sinto subestimado, afrontado e ofendido.