Quanto mais avançada uma sociedade, menor a carga de preconceito.
Os gays chineses festejaram como nunca, esta semana, a visita de um chefe de governo estrangeiro.
A visita tinha finalidades meramente comerciais, mas os gays viram, ali, uma oportunidade de avanço para sua causa, ainda um tabu na China.
Compreende-se.
O visitante comemorado era Jóhanna Sigurðardóttir, 69 anos, premiê da Islândia. Ela é a primeira chefe de governo do mundo abertamente gay.
Mãe de dois filhos de um primeiro casamento, Jóhanna viajou acompanhada de sua mulher, uma escritora. Esteve com ela em todas as cerimônias oficiais. É, afinal, a primeira dama da Islândia.
A Islândia é parte de um dos pedaços mais fascinantes do planeta: a Escandinávia. São países singulares, em que o capitalismo se impregnou de um forte sentimento igualitário. Disso resultou um Estado de Bem-Estar Social sem paralelo no mundo.
A Escandinávia é uma espécie de utopia que hoje vai se tornando referência internacional: floresce economicamente em meio ao caos generalizado, e isso oferecendo a seus habitantes condição de vida sem paralelo em nenhuma outra parte.
A Escandinávia – Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia – lidera consistentemente as listas sobre os países socialmente e tecnologicamente mais desenvolvidos, em que a vida é melhor para a população.
Jóhanna Sigurðardóttir, que milita no Partido Trabalhista, de centro-esquerda, faz parte de um universo singular.
O prefeito da capital Reiquijavique, Jon Gnarr, 47 anos, é um comediante que jamais fizera política. Gnarr certamente inspirou o italiano Beppo Grillo, que como ele trocou com sucesso a comédia pela política.
O partido que Gnarr criou se chama Best Party. Quando ele o anunciou, muita gente pensou que fosse uma piada contra a política e os políticos do país.
A Islândia acabara de passar pelo trauma financeiro que deixou o país quebrado, e os islandeses estavam irritados com seus políticos.
O Best Party venceu as eleições para a prefeitura de Reiquijavique – cidade de 100 mil habitantes — com uma plataforma em que havia itens desconcertantemente bem humorados.
O Best Party avisava antecipadamente que não iria mesmo cumprir as promessas eleitorais, ao contrário dos demais partidos que mentem que vão. Uma delas era a garantia de toalhas de graça nas piscinas públicas.
Aos que se preocupavam com um comediante no poder, ele tinha uma mensagem tranqüilizadora. Se fosse o Worst Party, o Partido Pior, haveria de fato razões para sobressalto. Mas não sendo o Melhor Partido.
“Não é porque você brinca que você não é sério”, diz ele. Gnarr tem um programa bem-sucedido na televisão islandesa. Como tantas crianças engenhosas, teve sérios problemas na escola. Acabou deixando os estudos aos 14 anos. Ingressou na cena musical punk da Islândia e com o tempo encontrou seu caminho na comédia, onde se estabeleceu. É casado com uma massagista.
Personagens incomuns como Jóhanna Sigurðardóttir e Jon Gnarr você só encontra na Escandinávia.
O Diário reafirma aqui, ainda uma vez, seu compromisso na luta por um Brasil à escandinava.