PUBLICADO ORIGINALMENTE NO EMPÓRIO DO DIREITO.
O título de uma das músicas da banda Sepultura — Recuse/Resista — tem toda pertinência hoje. Na minha avaliação, a atual situação política e social é desesperadora. É real o “avanço” da direita rancorosa e elitista.
A Rede Globo alcançou parcialmente os seus objetivos estratégicos: despolitizar a nossa sociedade, criar nas pessoas uma verdadeira ojeriza à classe política, embora não haja país sem governo e, sem política, não se governa …
Entretanto, a grande imprensa pensava em afastar a esquerda do poder para ali colocar um governo adepto do neoliberalismo. Este é o sonho da classe empresarial. Errou feio: fez ascender ao poder um grupo de fascistas. Fez ressurgir a extrema direita em nossa pátria.
Assim, não se sabe até quando o atual governo buscará reduzir as despesas do Estado, com redução dos programas sociais e vai continuar a privilegiar o interesse do empresariado, com tentativa de “flexibilização”, ainda mais, dos direitos trabalhistas, bem como tornar “um inferno” a aposentadoria das pessoas.
Vale dizer, extrema direita não combina com neoliberalismo. Este conflito está deflagrado no interior do atual governo do país.
Notem que, para nós, da classe média ou classe média alta, esta política neoliberal só nos beneficia, por isso temos legitimidade para nos opor a estas injustiças sociais. Por outro lado, pior ainda seria a vitória do chamado “grupo ideológico” deste governo fascista. Seria a derrocada da nossa frágil democracia.
A grande mídia está “despudorada” e grande parte da população é desinformada de forma cínica e até criminosa quando, deliberadamente, omite relevantes fatos e esconde o real desnível de nossas classes sociais. A miséria e a pobreza da população são atribuídas a questões menores e laterais, desconsiderando o perverso sistema econômico.
É vergonhosa a massiva e constante propaganda da grande mídia empresarial em favor desta nefasta reforma da previdência, que visa principalmente favorecer os grandes grupos financeiros.
Eles dizem que buscam acabar com privilégios. Entretanto, nada tiraram dos militares.
Por outro lado, se a reforma objetiva fazer justiça social na Previdência, o certo não é retirar um trilhão e trezentos milhões de reais dos aposentados, mas sim distribuir este valor entre os que menos recebem da previdência. É uma questão de lógica. São cínicos e só apoiam este governo de extrema direita para conseguirem as suas reformas econômicas.
Enfim, quando a truculência e o obscurantismo estão disseminados, o desespero e a falta de perspectiva no futuro podem “levantar”, perigosamente, a camada mais sofrida e a mais esclarecida da nossa injusta sociedade.
Destarte, não podemos achar natural ou normal que o Brasil seja governado por pessoas tão despreparadas, toscas, truculentas, preconceituosas, ignorantes, perigosas e vinculadas a grupos marginais.
Recusamos este retrocesso social e vamos resistir.
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Afrânio Silva Jardim é professor associado de Direito Processual Penal da UERJ, mestre e livre-docente em Direito Processual, Procurador de Justiça (aposentado).