A Lava Jato acusou o golpe. Em nota divulgada nesta tarde, os procuradores atacaram o advogado Rodrigo Tacla Durán, que trabalhou na Odebrecht.
“A matéria se baseia em reiteradas mentiras do criminoso foragido e multidenunciado, que periodicamente são renovadas”, destaca o texto.
Os procuradores fazem referência à reportagem de Jamil Chade publicada no UOL, em que Tacla Durán conta que pagou 612 mil dólares, o equivalente a 2,4 milhões de reais, ao advogado Marlus Arns para não ser preso.
“O criminoso já havia feito acusação falsa semelhante contra a operação Lava Jato e a Justiça brasileira em 2017, por meio de videoconferência na CMPI da JBS. Com base nessas falsas acusações, três deputados federais protocolaram representação junto à Procuradoria-Geral da República (PGR) para apuração da conduta de integrantes da força-tarefa Lava Jato, a qual foi processada e arquivada, haja vista a absoluta improcedência da acusação, não configurando “infração penal, civil ou administrativa”, afirmaram os procuradores.
Há um problema na nota. Tacla Durán não acusa diretamente nenhum procurador. Como a equipe de Deltan Dallagnol pode assegurar que é mentira?
Nesse caso, a nota deveria ser assinada também por Marlus Arns. Ou por Carlos Zucolotto Júnior, o advogado que teria pedido 5 milhões de dólares de pagamento por fora para conseguir facilidades num acordo de delação premiada.
Na época em que fez essa revelação, no segundo semestre de 2017, Tacla Durán apresentou perícia para comprovar que a imagem da tela de seu celular com a conversa com Zucolotto Júnior por aplicativo não havia sido adulterada.
Nessa conversa, Zucolotto, além de pedir dinheiro, afirma que pediria ajuda de alguém importante. “Meu contato vai conseguir que DD entre na negociação”, escreveu, segundo a transcrição da conversa.
DD pode ser qualquer um, mas, no contexto em que se deu o diálogo, o mais provável é que se trate de Deltan Dallagnol. Poderia ser bravata de Zucolotto? Sim.
Mas, nesse caso, por que ele não desmentiu?
O advogado paranaense, que é amigo de Sergio Moro, foi poupado pela CPI da JBS, e eu estive no escritório dele, para que me desse entrevista.
Zucolotto não só se negou a falar, ainda que eu propusesse uma entrevista sem corte, como dois homens que saíram do escritório me seguiram e me ameaçaram.
Marlus Arns também poderia dar entrevista, mas, segundo o UOL, não quis falar.
No lugar deles, entraram os procuradores, que, repita-se, não haviam sido citados diretamente.
“A força-tarefa do Ministério Público Federal no Paraná (MPF/PR) repudia veementemente os ataques à Lava Jato e à Justiça brasileira feitos em reportagem publicada nesta terça-feira, 18 de junho, no portal ‘UOL’, com o título ‘Paguei para não ser preso’, em que Rodrigo Tacla Duran alega que foi extorquido pelo advogado Marlus Arns para não ser preso na operação. A matéria se baseia em reiteradas mentiras do criminoso foragido e multidenunciado, que periodicamente são renovadas”, disseram os procuradores.
De novo, se não foram acusados diretamente, por que falam em nome de Marlus Arns.
Não é a única impropriedade dos membros da Lava Jato na nota. Eles atacam também o jornalista que fez a reportagem, ao dizer que ele deveria ter questionado Tacla Durán sobre uma suposta confissão dele, na Espanha, de que fez operação de lavagem de dinheiro para a Odebrecht.
“Ele responde por seus crimes também na Espanha, onde não vive em plena liberdade. O informante da notícia é um criminoso confesso, que busca, por meio de ofensas e ilações descabidas, ver-se livre de acusações no território brasileiro. Houvesse a devida diligência por parte do jornalista, teria sido indagado a Tacla Duran a respeito da confissão de seus crimes”, comentaram.
Tacla Durán vive, sim, em plena liberdade na Espanha, como constatei nas duas vezes em que estive lá, para entrevistá-lo. Além disso, não tem seu nome na lista de procurados pela Interpol.
O chamado alerta vermelho foi retirado do sistema por decisão do comitê diretivo da instituição, que validou as provas apresentadas por ele de que foi perseguido pela Justiça brasileira.
O argumento central da defesa de Tacla Durán é que Sergio Moro, o autor dos mandados de prisão contra ele, é um juiz parcial e, portanto, indigno de crédito.
Por fim, a Lava Jato tenta confundir o conceito de Justiça com o papel que ela desempenhou em nome da Justiça. Pode sensibilizar os brasileiros que ainda acreditam nessa farsa. Ou não querem ver a Lava Jato sob outra perspectiva, a de que foi uma operação com nítido viés político.
Mas é um discurso que já não faz sentido para as pessoas bem informadas.
“A força-tarefa Lava Jato lamenta que seja conferido espaço jornalístico para que sejam promovidas acusações absolutamente infundadas, com o objetivo de atacar a operação Lava Jato e a Justiça brasileira para lançar máculas sobre seu julgamento no Brasil e assim alcançar impunidade no exterior.”
A Lava Jato quer agora ser ombudsman da imprensa brasileira.
Ao tomar conhecimento da nota, Tacla Durán comentou com amigos: “É muito ódio”.
.x.x.x.
Veja a nota dos procuradores da força tarefa coordenada por Deltan Dallagnol:
Força-tarefa repudia ataque mentiroso de criminoso foragido contra a Lava Jato e a Justiça
Publicação baseada na palavra do criminoso que busca macular seu julgamento e alcançar impunidade
A força-tarefa do Ministério Público Federal no Paraná (MPF/PR) repudia veementemente os ataques à Lava Jato e à Justiça brasileira feitos em reportagem publicada nesta terça-feira, 18 de junho, no portal “UOL”, com o título “Paguei para não ser preso”, em que Rodrigo Tacla Duran alega que foi extorquido pelo advogado Marlus Arns para não ser preso na operação. A matéria se baseia em reiteradas mentiras do criminoso foragido e multidenunciado, que periodicamente são renovadas.
O criminoso já havia feito acusação falsa semelhante contra a operação Lava Jato e a Justiça brasileira em 2017, por meio de videoconferência na CMPI da JBS. Com base nessas falsas acusações, três deputados federais protocolaram representação junto à Procuradoria-Geral da República (PGR) para apuração da conduta de integrantes da força-tarefa Lava Jato, a qual foi processada e arquivada, haja vista a absoluta improcedência da acusação, não configurando “infração penal, civil ou administrativa”.
Rodrigo Tacla Duran responde no Brasil a quatro ações penais por lavagem de dinheiro multimilionária, em que diversos colaboradores, como executivos das construtoras UTC e Odebrecht, expressamente afirmam que ele foi o autor da lavagem de centenas de milhões de reais. Tais fatos já mostram por si só o total descabimento da reiterada alegação de extorsão para evitar que fosse preso. Os fatos são públicos e demonstram exatamente o contrário.
A reportagem está equivocada quando afirma que Rodrigo Tacla Duran vive em liberdade na Espanha e que foi advogado da Odebrecht. As inúmeras provas mostram que ele atuou, sim, como operador financeiro, como “doleiro”, e não como advogado. Tanto que o próprio Rodrigo Tacla Duran confessou expressamente a prática de crimes perante autoridades espanholas, admitindo ter realizado operações de lavagem de dinheiro para a Odebrecht (“que lo primero que quiere decir es que el reconoce que ha blanqueado dinero a ODE”- Anexo 96, da denúncia oferecida nos autos 5013130-08.2019.4.04.7000).
Ou seja, ele responde por seus crimes também na Espanha, onde não vive em plena liberdade. O informante da notícia é um criminoso confesso, que busca, por meio de ofensas e ilações descabidas, ver-se livre de acusações no território brasileiro. Houvesse a devida diligência por parte do jornalista, teria sido indagado a Tacla Duran a respeito da confissão de seus crimes.
Como confessado por ele mesmo, Tacla Duran atuou como grande operador financeiro, cometendo diversos crimes de lavagem de dinheiro transnacional. Tal fato pode ser confirmado pelas diversas provas documentais juntadas pelo Ministério Público Federal na ação Penal nº 5054787-95.2017.4.04.7000, como: (a) declaração firmada pela Odebrecht no sentido de que “para viabilizar o pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos e políticos lançou mão aos serviços prestados por Rodrigo Tacla Duran, o qual se encarregava de receber recursos ilíticos da ODEBRECHT no exterior, por meio de contas abertas em nome de offshores, e repassá-los, no Brasil e no exterior, aos seus destinatários”; (b) e-mail remetido por Rodrigo Tacla Duran a executivos da Odebrecht em que expressamente admite que “Operei com vocês + de USD$ 300.000.000,00 e acredito eu que nunca trouxe problemas ou aborrecimento de qualquer natureza a vocês”.
A reportagem, sem confirmação dos fatos, ainda omite que a extradição de Rodrigo Tacla Duran foi, em realidade, inicialmente deferida pela Espanha, somente não se concretizando em virtude de o Estado brasileiro não garantir a reciprocidade no tocante a extradição de nacionais.
A força-tarefa Lava Jato lamenta que seja conferido espaço jornalístico para que sejam promovidas acusações absolutamente infundadas, com o objetivo de atacar a operação Lava Jato e a Justiça brasileira para lançar máculas sobre seu julgamento no Brasil e assim alcançar impunidade no exterior.