A sétima reportagem da série do Intercept sobre as conversas secretas da Lava Jato revelam que Moro trabalhava com dois pesos e duas medidas.
Em conversa vazada anteriormente, vê-se Moro instruindo Deltan Dallagnol para investigar suposta transferência de imóveis do filho do ex-presidente petista, com o aviso: “a fonte é séria”.
Não era, porque a investida da turma de Deltan Dallagnol não deu em nada.
O episódio mostra Moro como se fosse o chefe da acusação.
Já em relação a uma denúncia contra Fernando Henrique Cardoso, se comportou como um advogado de defesa.
Conforme o Intercept, no dia 13 de abril de 2017, Moro entrou em contato com Deltan Dallagnol, coordenador da força tarefa da Lava Jato. O Jornal Nacional tinha noticiado uma delação que envolvia o ex-presidente tucano:
Moro – Tem alguma coisa mesmo séria do FHC? O que vi na TV pareceu muito fraco?
Moro – Caixa 2 de 96?
Dallagnol – Em pp sim, o que tem é mto fraco
Moro – Não estaria mais do que prescrito?
Dallagnol – Foi enviado pra SP sem se analisar prescrição
Dallagnol – Suponho que de propósito. Talvez para passar recado de imparcialidade
Moro – Ah, não sei. Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante
Como se sabe, Fernando Henrique Cardoso não foi incomodado pela Lava Jato, mesmo diante da revelação, poucos meses depois, de que o próprio ex-presidente tucano pediu doação a Marcelo Odebrecht, em 2010.
São nove e-mails juntados no processo. Em alguns, Fernando Henrique pede doação para candidatos do PSDB, inclusive com as informações sobre número de conta e agência bancárias. Em outros, ele trata de pedido para o instituto que preside.
Não há registro de contabilização dessas doações nas campanhas para as quais Fernando Henrique pediu dinheiro. Se houve crime de caixa 2, teve a participação do ex-presidente.
Quanto a doações para o instituto, na época em que o pedido foi revelado, a instituição disse que houve recibo.
Como os pedidos são de 2010, não se pode falar em prescrição, mesmo no caso de caixa 2.
O curioso é que os e-mails com os pedidos de Fernando Henrique Cardoso foram apresentados pela defesa de Lula, não com intuito de denunciar o ex-presidente tucano, mas de demonstrar que doações empresariais para instituto de ex-presidente são normais, e não podem ser tratadas como crime.
Os e-mails tinham sido entregues por Marcelo Odebrecht à Lava Jato, mas tinham sido ignorados pelos procuradores.
Quando a defesa de Lula foi autorizada a consultar os e-mails, encontrou os registros e os apresentou a Moro.
Nem assim a Lava Jato se mexeu, seja para levar em consideração a defesa de Lula, seja para tomar providências no sentido de investigar Fernando Henrique Cardoso.
Na Lava Jato, independentemente das provas, parece vigorar o princípio de que tucano é sempre inocente e petista, especialmente o Lula, sempre culpado.
Agora se entende por que Fernando Henrique Cardoso defende tanto Sergio Moro. É difícil alguém atacar o próprio advogado.