Em Westminster, na virada do ano

Atualizado em 1 de janeiro de 2011 às 19:41

“Toda a região com vista para a queima de fogos está lotada. A BBC vai passar ao vivo.”

O quê?

Voltar para casa e ver os fogos de Londres pela tevê?

Faltavam uns 20 minutos para a virada do ano, e lá estava eu a caminho de Westminster, para ver o espetáculo dos fogos londrinos. Comigo iam os meus filhos e alguns amigos que estão passando uns dias em Londres conosco.

Recuar, jamais.

Tínhamos acabado de descer do metrô, não na estação de Westminster, que estava fechada, mas na anterior, a do St James Park.

500 000 pessoas tinham ido ver os fogos, disparados de frente de uma London Eye iluminada magnificamente como parte do espetáculo. É uma região linda de Londres. Ali está o Big Ben, ali está a sede do Parlamento.

E o Tâmisa.

O frio não deteve ninguém. Me chamou a atenção uma garota que vestia camiseta de manga curta e uma minissaia. Bebida?

Sem dúvida este era o caso de um rapaz com uma camiseta branca em que havia uma mancha enorme que simulava sangue. Ele estava de frente para a multidão em movimento, e desejava caoticamente feliz ano novo a quem passasse por ele. Era mais amistoso que dois jovens, claramente encharcados de bebida, que cantavam: “West London is full of shit and more shit”.

Gosto do frio de Londres. Me parece que estou numa casa com o ar condicionado ligado no máximo.

Caminhamos até um lugar em que temos uma vista razoável. Não a ideal. Mas a vida não é ideal. Para pegar um lugar bom teríamos que chegar cedo.

Perto da meia noite, começa o alvoroço. Luzes são projetadas para o céu negro e límpido. Você olha para as pessoas e o que se destaca é uma quantidade enorme de celulares filmando a virada, nas mãos de improvisados diretores de cinema entusiasmados, compenetrados e amadores.

E então os fogos começam a iluminar a noite fria de Londres. Foram oito minutos, e pela primeira vez eles estavam acompanhados de músicas. Uma delas é Lucy in the Sky with Diamonds. Beatles sempre presentes, Lennon vivo e ativo apesar de tecnicamente morto há 30 anos.

Quer dizer, soube das músicas pelo noticiário. De onde estávamos, ouvíamos basicamente uns aos outros. A beleza do fogaréu foi muito bem captada pela BBC, no vídeo que abre este texto.

Em Westminster, na virada

Os fogos mais espetaculares são aplaudidos pelas pessoas, como se fossem canções. Há uma sabedoria no gosto da multidão, você percebe.

Terminado o espetáculo, nos dividimos. Os garotos vão para uma balada, Camila e eu para casa.

O metrô está aberto. É gratuito naquele momento. O movimento é grande, mas a fila flui. Funcionários públicos enérgicos dizem a todos para se mexer. “Move forward, move forward!” Uma coisa que impressiona em Londres é que tudo parece funcionar. A cidade é organizada, ao contrário de minha amada São Paulo natal, em que uma chuva pode ser trágica e matar pessoas.

Logo estamos num trem rumo a Wimbledon, da linha verde, a District Line, rumo a Putney Bridge, como sempre. Quando voltar ao Brasil, sentirei falta da estação de Putney Bridge, dos bancos, da escada pela qual as pessoas vão e voltam, da visão que tenho dela.

Penso que basicamente quero do Ano Novo o que tive no Ano Velho – saúde e, dentro dos limites possíveis, paz mental.

É o que desejo a todos também.