Há outra razão para Moro ter ficado tão irritado com a divulgação pela Polícia Federal das planilhas da Odebrecht no curso da investigação da Lava Jato.
Nesses documentos, apreendidos na residência do presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa da Silva Junior, aparecia o nome de Aécio Neves.
Era a primeira vez em que o então presidente do PSDB era ligado tão explicitamente aos esquemas de corrupção da empreiteira.
“Não pode cometer esse tipo de erro agora”, disse ele a Deltan Dallagnol.
Aécio Neves é um entre dezenas que aparecem na lista. No caso dele, a referência está no arquivo 9 das planilhas juntadas pela Polícia Federal no inquérito 1985/2015, apreendidos na fase 23 da Operação Lava Jato.
Aparece o nome de Aécio e a quantia depositada em uma conta bancária: 120 mil reais. Ao ser ouvido pelo blog de Fernando Rodrigues, que divulgou as planilhas, Aécio disse que estava tudo declarado.
E era possível que estivesse mesmo, já que a quantia mencionada é uma fração de valores que, mais tarde, seriam associados a Aécio Neves.
O próprio Benedicto Barbosa da Silva Júnior, que foi preso quando houve a busca e apreensão na residência dele, em Copacabana, Rio de Janeiro, entregaria mais tarde outras planilhas, junto com seu acordo de delação premiada, em que revela ter feito doações ilegais a Aécio, que era identificado pela alcunha de Mineirinho na contabilidade não oficial da empreiteira.
De qualquer forma, em março de 2016, no momento em que se alimentava a farsa de que o PT era a organização criminosa que precisava ser banida da presidência da república, uma planilha cujo divulgação irritou Moro não ajudava em nada.
“Continua sendo lambança”, disse Moro a Dallagnol, quando o coordenador da força-tarefa, diligentemente, dá a ele retorno de que não houve má-fé da Polícia Federal ao juntar as planilhas no inquérito que não estava sob sigilo.
É claro que a Polícia Federal, ao juntar as planilhas, avisou o blog do jornalista Fernando Rodrigues, que no dia seguinte já estava divulgando todo o seu conteúdo, que é enorme.
No dia, a imprensa repercutiu a divulgação, mas depois mudou de assunto. A planilha era uma evidência de que as relações indevidas com a empreiteira estava longe de ser uma exclusividade do PT. Atingia praticamente toda a classe política. Era de lá que vinha o financiamento eleitoral, e também a fonte de enriquecimento de muitos políticos.
Era um um problema estrutural da política brasileira, nenhuma inovação do PT.
Moro, um estrategista, sabia que as planilhas tiravam o foco do principal. Naquele momento, depois de autorizar a condução coercitiva de Lula e a divulgação ilegal de conversa deste com Dilma Rousseff, era preciso manter o PT sob fogo cerrado.
Em 11 de abril de 2016, dezenove dias depois de Moro advertir Dallagnol de que não podiam errar naquele momento, Dilma Rousseff foi afastada da presidência da república, com o apoio de muitos dos políticos que apareciam, direta ou indiretamente, na planilhas da Odebrecht.
No dia 6 de dezembro daquele ano, Moro e Aécio Neves apareceriam sorridentes, numa conversa ao pé do ouvido, durante uma homenagem que ambos receberam da revista IstoÉ.
Moro conseguiu contornar o “erro” da PF.