Uma está para a outra como a maçã está para a laranja.
Apples and oranges. Gosto desta expressão americana para descrever coisas que parecem semelhantes, ou que são em algum aspecto específico, mas são completamente diferentes no fim das contas.
A caxirola e a vuvuzela se encaixam aí. Apples and oranges. A vuvuzela é um instrumento tradicional da África do Sul, obviamente simplificado para ser produzido em massa a baixo custo. Ou pelo menos assim nos foi apresentado (eu não sou especialista em instrumentos musicais sul-africanos).
A caxirola não é um instrumento tradicional brasileiro, embora tenha sido inspirado no caxixi, uma espécie de chocalho usado entre os componentes do berimbau.
Mas, mais importante que isso, a caxirola não é um instrumento tradicional nos nossos estádios. Quem já viu uma dessas num Pacaembu lotado numa final de Campeonato Brasileiro? O som que nós tradicionalmente ouvimos é o de escola de samba.
O que a caxirola é, de verdade, é um bom produto. Foi criado (ou adotado) pelo Carlinhos Brown para render uma fortuna. A ele ou a quem quer que o inventou.
Cada caxirola que for produzida, rende aos detentores da patente um dinheiro. Se o negócio pegar, como pegaram as vuvuzelas, os caras ficam ricos. Se foi invenção de Brown de fato, ele vai ganhar dinheiro como inventor como jamais ganhou como músico.
Nada contra. Ótima idéia, e quem tem boas ideias merece ganhar por elas. O que é de uma ingenuidade quase comovente é a presidenta Dilma Roussef de garota-propaganda da caxirola.
Pior, e aí já não me parece ingenuidade, mas resultado de lobby, é o Ministério dos Esportes entrar com o endorsement ao instrumento.
Acho justo a gente ganhar dinheiro com boas ideias. Muito dinheiro, se for muito boa ideia. Algo como o computador, por exemplo, ou o automóvel, ou a cura do câncer. Eventualmente um dinheirinho com a caxirola, instrumento que até tem certa lógica.
Mas aí, se vira, né? Não vai usar o governo federal para ganhar com uma invenção que, de verdade, não vai render dinheiro para ninguém que não para quem inventou.