O governador do Maranhão, Flávio Dino, avalia recorrer à Procuradoria Geral da República para denunciar Jair Bolsonaro pelo crime de racismo. Em conversa gravada em vídeo que teve com o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, Bolsonaro se referiu aos nordestinos como “paraíbas” e orientou seu ministro a não atender a pleitos do governador do Maranhão.
“Não tem que dar nada para esse cara”, disse, no vídeo vazado.
A fala de Bolsonaro contrasta com a postura de Flávio Dino desde que a campanha eleitoral de 2018 terminou.
Logo depois que se reelegeu, em entrevista ao DCM, o governador Flávio Dino respondeu à pergunta sobre como deveria ser a relação com Bolsonaro, que ainda não havia tomado posse. Dino estendeu a mão ao então presidente eleito, com uma declaração baseada em princípios como lealdade e respeito.
“De minha parte há duas premissas (na relação com o governo central). A primeira: eu não vivo num país ditatorial, ou seja, eu tenho liberdade de pensar e de opinar. Portanto, jamais vou me submeter a qualquer ordem de homogeneização de pensamento, porque seria uma traição, uma traição a meu país, uma traição a mim mesmo”, afirmou.
Dino lembrou ainda uma resposta que o principal líder da oposição durante a ditadura miliar, Ulysses Guimarães, deu quando o general Ernesto Geisel foi eleito indiretamente pelo Congresso Nacional, em 1974.
“O Ulysses disse: eu darei ao presidente Geisel a melhor das contribuições, que é fazer oposição. Porque a boa oposição ajuda o governo.”
E ajuda mesmo, quando o governo tem compromisso com a boa prática democrática.
“Tenho o direito e, a meu ver, o dever de patrioticamente fazer a boa oposição, as críticas daquilo que considero errado, daquilo que considero equivocado. A segunda premissa é aquela segundo a qual, da minha parte, eu distingo bem o que são as adversidades políticas, inerentes ao regime democrático do relacionamento administrativo. Da minha parte, vou, tranquilamente, serenamente, procurar o presidente da república, ministros de estado, as autoridades federais sediadas no Maranhão, porque tanto eles quanto o nosso governo têm deveres em relação à população.”
No Maranhão, há projetos federais tocados em parceria com o estado, como o programa Minha Casa, Minha Vida e recuperação de rodovias.
“É claro que é minha obrigação cobrar, acompanhar, colaborar, claro, estou pronto a colaborar com os programas federais que forem justos, que forem corretos para o Brasil, para o meu estado. É claro que terão a minha colaboração”, afirmou.
Dino não fez mais do que expressar o que é comum em qualquer país democrático, inclusive nos Estados Unidos, aos quais Bolsonaro presta declarações de respeito, admiração e amor.
“Ninguém imaginaria nos Estados Unidos, na França ou na Alemanha que a esquerda vai ser eliminada, que o pensamento popular-nacional-progressista possa ser eliminado. Mesmo nos países governados à direita — cito o exemplo de Angela Merkel na Alemanha —, se respeitam os cânones democráticos, se dialoga com todas as posições políticas. Acho que esse é o certo e da minha parte é o que farei, não haverá interdição ideológica da minha parte no relacionamento com o governo federal porque acho que isso é o que determina a nossa Constituição, e isso que é a boa vivência democrática que nós precisamos ter, e desejo, naturalmente, que haja reciprocidade em relação a isso”, disse o governador do Maranhão.
O orçamento do governo federal é feito com dinheiro de todos os brasileiros, inclusive com o dos moradores do Maranhão.
Compare-se a frase de Bolsonaro com o que disse Flávio Dino na entrevista ao DCM. Mesmo quem não gosta da esquerda, deveria repudiar a fala do presidente.
Nada justifica o que disse. Não pode ser considerado arroubo eleitoral, já que o país não está em campanha e o presidente precisa governar para todos. É básico, é racional, é civilizado.
Nada disso combina com Jair Bolsonaro.
Flávio Dino fará bem se denunciá-lo à Procuradoria Geral da República por racismo.