É fácil identificar as fotos que Camila tira de mim.
O sorriso é inconfundível. Genuíno, aberto. Franco.
Camila não tem que pedir a mim que sorria.
Uma vez Max Gehringer, autoridade em marketing, me disse que deveria mudar minha foto do blog. Eu estava com uma cara depressiva, ainda que a foto fosse bonita, ambientada na beira do Tâmisa, com uma vista da Putney Bridge. Uma excelente fotógrafa a tirara. Mas faltava ali o sorriso que Camila arranca do pai automaticamente.
Esta foto é de uma das ruas que me são particularmente caras, a Napier Avenue, em frente de casa. Por ela costumo andar rumo ao supermercado, ou à quiche Lorraine do Pain Quotidién de Parsons Green, ou ao Hurlingham Park, em cuja grama macia como um colchão gosto de deitar nos dias quentes com um livro nas mãos, os olhos às vezes espichados para cima para ver os aviões de Londres, chegados e saídos do congestionado Heathrow. Poucas imagens me tocam tanto quanto um avião lá no alto.
Imagino que seja o sentimento de liberdade. Adoro estar dentro de um avião. Meus filhos notaram, na vinda a Londres, que o pai dormia pesado numa turbulência.
Roncava, talvez.
Neste dia raro em que a neve remeteu a filmes antigos de Papai Noel estava levando Camila exatamente ao parque, onde seu irmão Pedro e amigos faziam um boneco de neve, ao qual deram o nome de Senhor Bastilha.
SB durou exatamente um dia antes de morrer por derretimento natural.
Dezembro é o ápice do frio em Londres. Escurece antes das quatro. Em meu primeiro inverno na cidade isso me derrubou. Hoje gosto do inverno londrino, da sensação de andar nas ruas sob um ar condicionado severo. De oportunidade de me recolher. De hibernar parcialmente.
Agora, começa o reaquecimento.
Ontem, um dia lindo de céu azul, já passava de quatro da tarde e o dia ainda estava claro. E quente, uns cinco graus.
O gelo em Londres é belo.
Mas o degelo é incomparável.