O condomínio golpista que tirou o PT do poder e prendeu Lula está sem síndico. Por Mário Rocha

Atualizado em 31 de agosto de 2019 às 9:42
Doria, Bolsonaro e Guedes: uma cena que dificilmente se repetirá

Não dá mais para interpretar os fatos – e a divulgação deles pela velha imprensa – no Brasil de Bolsonaro com base nos mesmos parâmetros dos anos anteriores.

As peças do tabuleiro mudaram como também são outras as regras do jogo.

Até antes da posse do Bolso, tínhamos um acordo tático entre a velha imprensa e os donos do capital para criminalizar Lula e o PT, atingindo por tabela os movimentos sociais e a esquerda em geral, com o intuito de colocar no poder um governo de politicas econômicas neoliberais.

Lava-Jato e impeachment da Dilma fazem parte desse acordo tático. Deu certo quando o PT foi despachado do Planalto, Lula foi preso e Haddad foi derrotado nas eleições.

A coisa começou a mudar com o estilo Bolsonaro de exercer a presidência.

Se por um lado a política econômica dele agrada aos donos do capital e à velha imprensa, o personalismo dele, as relações familiares e com as milícias, a ausência de tato na diplomacia, o palavreado e o comportamento chulos, as agressões à imprensa, tudo isso é um risco para os negócios.

Sem falar na política retrógrada de costumes, que desagrada parte da burguesia economicamente neoliberal mas progressista no comportamento.

A união da direita e da elite econômica para derrubar o PT e eleger um candidato de promessas neoliberais foi desfeita. O “nós, homens de bem, contra os vermelhos corruptos” exibe hoje um racha.

Há um movimento em parte dos golpistas (donos do capital + velha imprensa) para buscar uma nova solução que seja neoliberal, porém limpinha e cheirosa.

Um Doria, por exemplo. Ou um Huck. Ou outros que estão sendo gestados nos tubos de ensaio.

Há ainda outros elementos que hoje atuam de maneira díspar em relação ao período pré-Bolsonaro. São os casos do Moro (afinal, qual é a missão do Moro depois de ter mandado o Lula pra cadeia?), dos militares que agora estão em mais de cem cargos no governo, do STF (vai soltar o Lula e colocar fogo no país?, duvido!, mas vai ser mais garantista em relação a outras vítimas da Lava-Jato).

Por essas e por outras, não dá pra acreditar que o Queiroz apareceu na Veja porque há interesse jornalístico nesse assunto. O Brasil hoje tá mais complicado. O PT foi golpeado do poder e de sua tentativa de voltar ao poder, mas o poder não caiu nas mãos de quem deu o golpe. Ou melhor, caiu em parte. Mas tem outra ou outras partes insatisfeitas.

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Mário Rocha é jornalista.