Um dado da pesquisa Datafolha de hoje chama particularmente a atenção. Não é o do aumento da reprovação, previsível diante do espetáculo diário de incompetência, sectarismo e vulgaridade, protagonizado nas portas do Palácio do Alvorada.
O dado mais relevante do ponto de vista politico é o dos arrependidos: pessoas que votaram em Bolsonaro no segundo turno, mas não repetiriam o gesto se a eleição fosse hoje. Essa revelação está na análise do diretor do Datafolha, Mauro Paulino. Ele escreveu:
“A prova do diagnóstico está no contingente de arrependidos —um em cada quatro dos que votaram no capitão reformado não repetiria a opção caso o pleito fosse hoje, garantindo a Fernando Haddad (PT) uma liderança apertada, mas fora dos limites da margem de erro.”
Ou seja, Bolsonaro é considerado hoje produto de um erro admitido por 25% dos seus eleitores no segundo turno.
Erro, por sua vez, proporcionado pelo ambiente polarizado da eleição, em que duas candidaturas foram interpretadas como equivalentes, e Bolsonaro, equivocadamente, foi visto como um mal menor.
A disputa sempre foi entre a barbárie representada pelo ex-deputado e a civilização, no segundo turno encarnada por Fernando Haddad.
Faltou à imprensa colocar o debate nos termos corretos. Mas já era previsível que esta não o faria, dado o antipetismo que tomou conta de seus dirigentes.
Nesse vácuo, era preciso que as lideranças políticas do campo progressista se comunicassem diretamente com os eleitores ou à sociedade, através de outros mecanismo, que o bolsonarismo usa bem, a rede social.
Também poderia fazer uma comunicação direta com a sociedade através das mobilizações corretas de campanha.
E por que isso não ocorreu?
Porque a principal liderança política do país se encontra presa, naquela época proibida de dar entrevista. E quem poderia falar por ela não teve a mesma força.
Ou esperou que, com a mediação feita pela imprensa, a tarefa fosse cumprida.
Não foi. Nem seria. Nem será.
É a política que tem de ocupar o espaço vazio, com ações concretas, não apenas no palco da velha mídia.
A pesquisa de hoje mostra que grande parte dos eleitores se arrepende.
Não é hora de tripudiar — de dizer “eu bem que avisei”.
É hora de diálogo e da construção de uma frente que ajude a consertar o estrago que já está feito e de viabilizar o retorno à plenitude democrática.