Marcelo Ricardo da Silva, ex-motorista do deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP), apresentou à Justiça de São Paulo comprovantes de depósitos bancários que realizou para a esposa de seu ex-chefe, Fabiana Rodrigues Frota.
De acordo com Silva, essas são as provas de que ele operou como laranja do deputado nos anos de 2017 e 2018, tendo sido colocado como proprietário de duas empresas de Frota, a FR Publicidade e Atividade Artística e a DP Publicidade Propaganda e Eventos, e recebendo e repassando valores para a esposa do deputado. Alexandre Frota nega a acusação (veja mais abaixo).
A alegação do ex-motorista foi noticiada por órgãos de imprensa em junho deste ano. Desde então, no entanto, jamais tinham sido divulgados documentos – aos quais a reportagem do DCM teve acesso – ligando a mulher do deputado ao caso, tampouco provas de transações financeiras entre os envolvidos.
Por causa da acusação que sofre, Frota resolveu acionar judicialmente seu ex-funcionário, por meio do processo número
1007364-74.2019.8.26.0152, que corre na Vara do Juizado Especial Cível e Criminal de Cotia (SP). É neste processo que constam os documentos reproduzidos nesta reportagem.
Conforme afirma o ex-motorista, ele teria sido colocado, no início de 2018, como proprietário das empresas de Frota, sem, no entanto, exercer qualquer papel empresarial, já que, segundo alega, sequer possui formação profissional para tanto. Posteriormente, o próprio deputado admitiu a sociedade com o ex-motorista, durante entrevista no programa Roda Viva, na TV Cultura, no mês passado. O documento abaixo prova a propriedade formal do ex-motorista.
De acordo com Marcelo Silva, ao longo de 2018, foram realizados depósitos que somaram R$ 70 mil em sua conta bancária, a maior parte em dinheiro vivo, cujos valores ele não sabe dizer a origem, mas que o seu então chefe, Alexandre Frota, ordenava que ele depositasse na conta de Fabiana Rodrigues Frota, mulher do deputado tucano, que, à época, era filiado ao PSL (Partido Social Liberal). Veja, abaixo, as alegações do ex-motorista prestadas à Justiça.
Marcelo Silva apresenta no processo comprovantes que mostram que ele teria feito depósitos na conta da mulher de Frota, muito embora os documentos constantes no processo não alcancem o montante de R$ 70 mil.
Afirma, também, que a totalidade das provas foi entregue ao Ministério Público de São Paulo, a quem Silva teria procurado para denunciar o uso de seu nome como laranja.
O ex-motorista conta também que, quando os valores eram depositados em sua conta, ele informava a Alexandre Frota, que determinava que fosse feita a transferência dos valores para sua esposa. Para sustentar sua tese, Marcelo Silva apresenta uma das conversas que teria tido com Frota por meio do aplicativo WhatsApp, que segue abaixo:
Finalmente, o ex-motorista afirma que seu nome foi retirado do rol de proprietários de uma das empresas de Frota. Para tanto, ele não assinou papel algum, e teria tido, segundo alega, sua assinatura falsificada pelo deputado. Também no processo, ele apresenta os documentos que mostram sua retirada de uma das empresas, bem como a manutenção, até hoje, de sua pessoa física no quadro societário da outra.
Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, ele disse que está tendo problemas financeiros em virtude de sua situação de proprietário formal da empresa de Frota. Veja, abaixo, cópia de parte do depoimento do ex-motorista ao MP-SP.
Outro lado
No processo judicial que corre em São Paulo, os advogados do deputado Alexandre Frota afirmam que Marcelo Silva era, de fato, sócio de Frota nas empresas citadas, mas que isso não o torna “laranja” de nada ou de ninguém.
Dizem também que Marcelo Silva era funcionário do deputado, mas veio a ser demitido. Ele teria ficado, então, descontente com a demissão, fato que o teria motivado a procurar a imprensa e fazer acusações contra a imagem pública do ex-chefe:
A demissão causou notório descontentamento. Isto, pois, à época nutria expectativa diversa, que fora frustrada pelo seu empregador, bem como pelo fato de ter acumulado dívidas que precisavam ser quitadas. Portanto, em função de não ter obtido êxito na tentativa de dissuadir o Autor de demiti-lo, passou a adotar postura mais agressiva: assim, sob o viés de ameaça, disse que procuraria às autoridades para denunciar sua suposta condição de “laranja” caso não fizessem um acordo, que consistia em quitar as verbas condominiais que devia.
Já sobre os depósitos bancários do ex-motorista na conta de sua esposa, o deputado ainda não tinha se manifestado até a publicação desta reportagem.