O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu uma entrevista exclusiva ao canal russo Russia Today (RT) em que fala sobre os últimos acontecimentos sobre sua situação e sobre o cenário político internacional.
O primeiro assunto abordado na entrevista foi a recente polêmica em torno de sua progressão de pena, quando 15 procuradores da Operação Lava Jato enviaram à Justiça, no final do mês de setembro, um pedido para que Lula cumprisse regime semiaberto a partir deste momento.
Para muitos analistas, essa teria sido mais uma estratégia política da Lava Jato, uma vez que a operação está sofrendo diversas derrotas tanto no legislativo quanto no Supremo Tribunal Federal (STF). Questionado sobre o por quê de recusar a liberdade, Lula foi categórico.
“Eu não recuso minha liberdade. Se tem uma coisa que eu quero na vida é ir para minha casa, viver com meus filhos e minha família. O que eu não posso aceitar é a tese de que eu estou assistindo uma progressão porque eu cometi um crime e já cumpri 1/6 da pena”.
Lula afirma que pretende deixar a sede da Polícia Federal, em Curitiba (PR), “com a minha inocência 100% comprovada. Eu não estou desafiando a Justiça. Eu estou desafiando um juiz que mentiu no meu julgamento, que foi o Moro, um procurador que mentiu na acusação [Deltan Dallagnol] e os que contaram mentira no inquérito”, disse o ex-presidente.
Lula explica que caso ele aceitasse a progressão, seria o mesmo que admitir que cometeu o crime do qual é acusado. “Eu não cometi crime nenhum, quem cometeu foi quem me condenou. Estou brigando pela minha inocência.”
Durante a entrevista, Lula também citou o recém lançado livro de Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República. “Nada menos que tudo” é um livro de memórias do ex-procurador, coescrito pelos jornalistas Jaílton de Carvalho e Guilherme Evelin.
Lula recorreu à parte em que Janot denuncia a obsessão dos procuradores de Curitiba por sua figura e as manobras que fizeram para que uma de suas acusações fossem fundamentadas. “O objeto de desejo chamado Lula”, destaca o ex-presidente durante a entrevista, ao citar um trecho do livro.
“Eu era uma espécie de Copa do Mundo para a Lava Jato. Eles queriam me conquistar. Era uma obsessão me trazer para Curitiba (…) por interesses políticos”, pontua. “Resolveram utilizar o Poder Judiciário para me transformar no que estão me transformando”.
Internacional
No cenário internacional, Lula elogia o papel desempenhado pelo presidente russo Vladimir Putin e critica o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“O Brasil é muito grande, pode ser um país soberano. O Brasil pode ser um país protagonista da política internacional, sabe? Uma coisa que eu estou orgulhoso é o papel do Putin na história mundial atual, o que significa que o mundo não pode ser tomado como refém pela política estadunidense. Pela loucura de Trump, a loucura de um presidente estadunidense que acha que pode invadir qualquer país, matar qualquer presidente, sabe? Alguém precisa detê-lo! E o Brasil pode detê-lo”, afirmou Lula.
Lula também aproveitou para falar sobre a situação da Venezuela, criticou o que chamou de tentativas de “intromissão” e chamou Juan Guaidó, auto proclamado presidente da Venezuela, de “mentira”.
“Não estou de acordo com a intromissão estadunidense, a intromissão brasileira, a intromissão colombiana, qualquer que seja a intromissão, tratando de governar um país soberano. Inventando um candidato, sabe? Inventam uma mentira como Guaidó, sou totalmente contra isso. Essa é uma coisa que todo país democrático deve assumir”, disse.