Um dos propósitos deste Sínodo para a Amazônia é descobrir novos caminhos para uma ecologia integral, que é a busca de uma tarefa missionária cujo objetivo é a defesa da Casa Comum. Essa missão em defesa da Casa Comum deve se tornar em um atitude presente na vida da Igreja, algo a ser assumido por todos os batizados.
Não podemos esquecer, como Tania Ávila reconhece, que “o que nos une a todos os povos é o cuidado da vida, porque, se não cuidarmos da vida, não há mais nada”. Apenas descobrindo “o que realmente somos e quem somos”, diz a teóloga boliviana, “encontramos o que nos une e podemos ver as diferenças”. Somos desafiados a entrar em nós mesmos “quando encontrar o que dá vida a mim mesma e o que não me dá vida, poderei conhecer a outra pessoa sem julgá-la, porque também encontro isso em mim”, segundo Tania, para quem a falta de preconceitos torna possível “escutar, mas uma escuta com todo o meu ser, e ao escutar a outra pessoa, começo a entrar em um processo de diálogo”.
Isso nos ajuda a entrar na dinâmica do Sínodo para a Amazônia, porque, nesse sentido, “escutar é uma palavra-chave que poderia definir esse sínodo, a necessidade de ser escutada e a possibilidade que foi dada para escutar”, observa Tania Ávila. Junto com isso, ela ficou impressionada “pela capacidade do Papa Francisco de nos convidar a dizer o que pensamos e dizê-lo sem medo”. Isso fez com que a assembleia sinodal fosse vista pela teóloga como “um espaço de confiança para dizer coisas, o que não significa que todos ouviram o mesmo, o que também não é ruim, é o processo natural de comunicação, Cada um interpretará algo diferente”.
Um exercício importante, segundo Tania Ávila, é “olhar para o que há de diferente em mim”, o que “me leva a reconhecer quantas relações assimétricas eu gero”. Isso torna possível “curar meu relacionamento comigo mesmo, o que me permite curar o relacionamento com a outra pessoa, o que representa outra cultura”. O objetivo final, em sua opinião, é “caminhar em direção a uma simetria dos relacionamentos, que é um processo muito longo e um processo pessoal”. Ela reconhece que “os povos indígenas precisamos trabalhar em nossa autoestima cultural, por exemplo, não podemos procurar que o outro nos reconheça, precisamos nos reconhecer, ampliar nossa dignidade, porque isso nos ajudará a poder dialogar com a outra pessoa, com a outra cultura, porque um complexo de superioridade ainda é uma falta de encontro consigo mesmo”.
Isso exige a necessidade de um diálogo dentro das culturas, “uma descolonização interna que nos ajude a descolonizar nossos relacionamentos”. Uma vez realizada essa descolonização das relações, “podemos reconhecer que nosso território não é apenas meu, é nosso território, que se eu não me importo, não cuido do território do outro, esse cosmos, essa pacha acaba”, enfatiza Tania Avila. Somos chamados a “reconhecer que meu conhecimento simbólico, aparentemente simples, é tão valioso quanto o conhecimento de outra cultura. Toda cultura tem seu nível de complexidade e, precisamente no complexo, no misterioso, está essa capacidade que temos para criar vida”.
A teóloga boliviana compara o Sínodo com a elaboração de um tecido, destacando “a capacidade de convocar cores e texturas diferentes, e que essa diferença é respeitada enquanto estamos no Sínodo, algo que se tornou visível entre os padres sinodais, leigos, mulheres, indígenas, o respeito dessa diferença, que não é uma homogeneização, mas mostra que há variedade e diversidade”.
Ao mesmo tempo, ela destaca outro momento que aconteceu durante a assembleia sinodal, que foi o encontro do Papa Francisco com os povos indígenas, entendido por eles como um gesto de profundo conteúdo simbólico da parte do bispo de Roma. Naquela reunião, Tania enfatiza que “ele nos disse que evangelizar é compartilhar minha alegria”. Portanto, ele afirma que “a este Sínodo cada um trouxe o que tem, o que é, mas o que deve ser coletado já é de responsabilidade de cada pessoa”. Como muitas outras vozes também apontaram, a teóloga insiste que “o Sínodo é um processo, não é um tecido acabado, e não precisa ser, porque temos caminhado muito tempo e fizemos avanços em cores e texturas, começamos o diálogo, mas esse é um tecido imenso, com muitas sementes e cores, e é hora de aprender a tecer, e cabe a todos tecer, devemos continuar tecendo, não deixá-lo como algo a meio caminho e sem forma”.