A greve nacional dos petroleiros está marcada para começar à zero hora deste sábado (26), para tentar pressionar a empresa a renegociar o acordo coletivo de trabalho. Assembleias da categoria por todo o país rejeitaram proposta feita pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), que inclui reajuste com base em 70% da variação acumulada da inflação (INPC) até a data-base (1º de setembro). Segundo os sindicalistas, a companhia retirou cláusulas do acordo, propôs reajuste abaixo da inflação – item que foi mantido pelo TST – e quer aumentar a contribuição com assistência médica, entre outras alterações.
Ontem (24), a Federação Única dos Petroleiros (FUP) encaminhou ao procurador-geral do Trabalho, Alberto Bastos Balazeiro, um pedido de mediação. A entidade reivindica “a promoção de entendimentos bilaterais, entre a Petrobrás e as entidades sindicais de seus empregados, com vistas à superação do impasse negocial”. A decisão de greve foi tomada nas bases da FUP e também da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).
Os sindicalistas afirmam que a Petrobras “se recusou a estabelecer qualquer forma de diálogo com os representantes dos trabalhadores”. Procurada, a empresa não se manifestou.
“Encaminhamos tanto ao TST como à Petrobras os pontos que entendíamos que seriam suficientes para melhorar a proposta apresentada pelo TST”, diz o coordenador-geral da FUP, José Maria Rangel. Entre os itens para os quais os petroleiros defendem ajustes, estão os relativos a horas extras, promoção por antiguidade, custeio sindical e vigência do próprio acordo coletivo, além de inclusão das subsidiárias e da Araucária Nitrogenados. Na última terça, a FUP e sindicatos filiados encaminharam comunicado sobre a paralisação.
Ao divulgar ontem seus resultados do terceiro trimestre, a Petrobras também registrou medidas para reduzir custos, incluindo corte de mão de obra. “Várias iniciativas estão em curso para cortar custos em bases permanentes. Processos estão sendo redesenhados, lançamos uma família de programas de demissão voluntária (PDVs) nos quais já se inscreveram mais de 2.000 empregados, desocuparemos quatro prédios até o final do ano, estamos passando de 18 escritórios fora do Brasil para somente cinco e várias outras medidas estão sendo implementadas com o emprego da transformação digital”, afirmou o presidente da empresa, Roberto Castello Branco.
A companhia registrou lucro líquido de R$ 9,087 bilhões, crescimento de 36,8% sobre o terceiro trimestre de 2018, resultado impulsionado pela venda da BR Distribuidora. No ano, o lucro é de R$ 31,984 bilhões, aumento de 35,1%. Só os acionistas terão remuneração de R$ 2,6 bilhões.
“O lucro que a Petrobrás anunciou na noite desta quinta-feira (24) está mascarado”, reage a FUP. “Se esconde no que a empresa recebeu pela venda da BR Distribuidora que, junto com o caixa gerado pela venda da TAG (Transportadora Associada de Gás), representou uma entrada de recursos no valor de R$ 9,4 bilhões. Ou seja, o que a empresa ganhou é proveniente das operações que foram descontinuadas.”
“A gestão Castello Branco alega que o suposto lucro foi fruto do desempenho do segmento de exploração e produção (E&P) e do aumento da produção de petróleo e gás”, prossegue a federação. “Mas, mesmo contando com o excelente resultado operacional do pré-sal, a empresa teria amargado um prejuízo de R$ 509 milhões, se não tivesse vendido os ativos. Que gestão eficiente é essa? Sem visão estratégica, Castello Branco quer transformar a gigante Petrobrás numa tacanha exportadora de óleo cru, como acontece com as petrolíferas africanas, que se vêm cada vez mais dependentes da flutuação do preço e da demanda do mercado internacional do petróleo.”