Mujica para o Nobel da Paz. Já.

Atualizado em 29 de maio de 2013 às 20:13

Com sua simplicidade inspiradora, o presidente uruguaio virou um cidadão de estatura mundial.

Um exemplo para a humanidade
Um exemplo para a humanidade

O Nobel da Paz já foi para almas bélicas e sangrentas.

Ted Roosevelt, presidente americano do começo do século 20, é um desses casos. Ele achava, como afirmou numa carta, que todo país deve guerrear de tempos em tempos para manter a “virilidade”.

Roosevelt, é certo, tinha um complexo familiar jamais superado. Seu pai não lutou na Guerra Civil. Pagou, como era comum naqueles dias, a um homem pobre para que o substituísse.

A covardia paterna pesou tanto em Roosevelt que, já velho e afastado da vida pública, ele tentou se alistar nas forças americanas na Segunda Guerra.

Barack Obama, naturalmente, é outro caso de acidente ao espírito pacifista que deveria dominar a entrega do Nobel da Paz.

Apenas para registro, Gandhi jamais levou o prêmio.

Mas.

Mas eis que surge uma rara notícia boa nessa área: a indicação, por uma ONG holandesa, do presidente Pepe Mujica para o Nobel da Paz.

Clap, clap, clap.

Mujica, segundo a ONG, trouxe paz à guerra contra as drogas, com sua política de liberação do consumo para minar o tráfico e os traficantes.

A contribuição ao mundo de Mujica vai muito além.

Sua simplicidade, digna dos grandes filósofos, é inspiradora. É um contraponto à ganância e ao consumismo doentio que levaram o mundo a ser o que é hoje.

Ele recusou o palácio para viver em seu sitiozinho. Ele doa 90% de seu salário para os pobres. Ele se locomove num fusca velho. E vital: ele não é um demagogo.

Ted Roosevelt amava guerras e ganhou o Nobel da Paz
Ted Roosevelt amava guerras e ganhou o Nobel da Paz

Mujica faz uma dupla extraordinária com o Papa Chico, que tomava mate no centro de Buenos Aires quando era bispo, andava de ônibus e, como ele, rejeitara um palácio.

Chico viajou para o conclave de Roma na classe econômica. Compare com as revelações das constantes viagens de primeira classe de Joaquim Barbosa e companheiros de STF – mais acompanhantes.

Mujica já avisou que, terminado seu mandato, vai se recolher a uma quase contemplação, em vez de correr atrás de moedas no indecente circuito de palestras milionárias que atrai ex-presidentes de notoriedade internacional – uma atividade que une, no caso brasileiro, FHC e Lula.

Não há nada que substitua a força do exemplo pessoal, e é isso que estes dois sulamericanos formidáveis oferecem a todos nós.

O papa é outro nome que mereceria o Nobel da Paz, com sua pregação pacifista que inclui até os ateus.

Ouça pessoas como o pastor Feliciano falando e a diferença saltará. Num de seus momentos mais pecaminosos, Feliciano disse que Deus matou Lennon porque ele comparou os Beatles a Jesus num momento.

O Nobel da Paz já errou muito.

É hora de acertar. Mujica ou Chico. Já.