Quando o ex-presidente Lula se entregou à Polícia Federal na noite de 7 de abril de 2018, dava-se início a mais um período conturbado da nossa história.
Naquele momento materializava-se o objetivo-fim de uma das maiores farsas judiciais já montadas em todo o período democrático brasileiro.
Lula, o ex-metalúrgico que por duas vezes chegou à presidência da República, finalmente estava preso numa caçada que a bem da verdade já durava décadas.
Muito menos pela prisão ilegal de um acusado, o grande crime que o Estado a serviço do poder econômico ali praticava era o de encarcerar a ideia de um Brasil mais justo e solidário.
Indisfarçadamente, o que a elite brasileira e sua canina e subserviente classe média comemoraram foi o que sonharam ser um trágico desfecho para a primeira grande experiência de um país soberano.
Naquele momento sabiam que não prendiam um homem.
Prendiam uma esperança de dignidade, respeito, inclusão, igualdade e justiça para todos aqueles que historicamente foram humilhados e excluídos.
Com Lula preso e uma vez impedido de participar das eleições que fatalmente ganharia, muito pouco faltava para que restasse enfim garantido o retorno definitivo de um projeto de poder secular com forte herança escravagista.
A ascensão de Jair Bolsonaro à presidência da República via indiscutível fraude eleitoral coroou de vez o espetáculo do absurdo que em cujo picadeiro central viu-se o presidente eleito pagar sua dívida com o juiz que prendeu seu principal adversário com uma pasta ministerial.
O Brasil voltou a ser a mixórdia que sempre foi.
Hoje, porém, com o completo restabelecimento de uma das mais importantes garantias individuais da Constituição cidadã de 1988, mais do que o fim de uma gritante injustiça, marca-se o que pode ser o princípio de um novo e vigoroso momento de luta e resistência frente aos enormes retrocessos que nos estão sendo impostos.
Com Lula finalmente livre, chega-se ao fim uma noite que durou 580 dias.
Que a sua liberdade seja de uma só vez um farol e um poderoso instrumento de guerra.