Publicado originalmente no Tijolaço:
POR FERNANDO BRITO
O presidente da Bolívia, Evo Morales,ajoelhou-se ao ultimato militar que recebeu.
Hoje à tarde, o comando das Forças Armadas bolivianas, “sugeriu” sua renúncia.
Não é, pois, um “ato unilateral de vontade”.
Curioso como militares admitem, como no Chile, lançar tropas contra os “vândalos” quando o governo é de direita, mas apelam à renúncia do governo quando é de esquerda.
E que não estava deslegitimado pelas urnas.
Numa curta declaração, Evo disse que renunciava “porque minhas irmãs e irmãos, líderes e autoridades do MAS [Movimiento Al Socialismo, seu partido] não continuem sendo perseguidos, perseguidos, ameaçados” e que era sua “obrigação como presidente indígena buscar essa pacificação”.
Qualquer discussão que houvesse sobre se sua votação superava os 10% de vantagem sobre o segundo colocado – cláusula constitucional para que não houvesse segundo turno – nenhuma delas negava que Morales tinha recebido a maioria dos votos dos bolivianos.
Sequer o país estava em crise econômica, ao contrário, mantinha-se em bons níveis de crescimento.
Além de Evo, também renunciou o vice-presidente Álvaro Linera, que segue firme com Evo e que, como o presidente, tem um mandato constitucional até 21 de janeiro.
Vários ministros, antes deles, já tinha anunciado que deixariam os cargos, depois que suas casas foram queimadas por grupos de oposição.
Deu-se um golpe de estado, simples assim, do qual não se sabe quem emergirá no governo do país ou se farão uma nova eleição ou será dispensada esta formalidade para entregar o governo ao derrotado nas urnas..
Não há um governante que, senão aceitando um banho de sangue de seu próprio povo, pode resistir a um ultimato de seus próprias Forças Armadas.
Se Evo vai resistir, fora do Governo, num eventual processo eleitoral, não se sabe.
Sabe-se, apenas, que a Bolívia voltou à sua triste rotina de golpes de estado.
Hoje cedo falei da historia de Florentino e o Diabo, de seu desafio folclórico. Evo, pelo visto, não teve chances de abrir a boca senão para se entregar.