A mídia corporativa brasileira somou um novo mantra ao inventário de platitudes antipetistas: Lula não aprendeu nada na cadeia.
É o inverso.
A mídia brasileira não aprendeu nada com Lula na cadeia.
E mantém a mesma ladainha desonesta, irracional e fraudulenta usada para levar o petista à prisão e inflar com ódio a horda de extremistas do país.
A soltura de Lula ressuscitou velhas distorções e irresponsabilidades editoriais.
Surgiu o medo oligofrênico da liberação em massa de homicidas, estupradores e sequestradores.
Era mentira.
Apareceu a dificuldade de combater a corrupção, expediente explorado nos discursos apocalípticos de fake news de Luis Roberto Barroso e companhia punitivista do STF.
Outra lorota.
Demolida pelos votos de Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Celso de Mello.
Os presos perigosos seguiram na cadeia, e a ameaça violenta mais nítida é a multiplicação de pobres e inocentes mortos pela delinquência assassina do governo do Rio de Janeiro.
Apelaram à polarização, a fantasia eleitoral empregada para naturalizar Bolsonaro e vilanizar Fernando Haddad.
A falsa simetria tupiniquim capaz de equiparar como perigo um professor democrata a um ex-militar entusiasta da tortura e da ditadura.
Aplicada a Lula, a equivalência é ainda mais risível e desprovida de lastro histórico.
À frente do poder, Lula (e Dilma) nunca atentou contra a democracia e atuou no limite das alianças do presidencialismo para sair com 87% de aprovação popular.
Bolsonaro é um paradigma diário de ensaio autoritário e desrespeito às regras democráticas.
Aparelhou a procuradoria, domou a Polícia Federal, esterilizou os órgãos de fiscalização contra trabalho escravo e danos ambientais.
Estabeleceu sigilo dos próprios gastos, defendeu a ditadura, feriu o princípio da impessoalidade e atacou a liberdade de imprensa.
A realidade esvazia a celeuma retórica comparativa e antipetista da mídia brasileira.
Mas ela não insiste.
A jornalista Miriam Leitão, protagonista invariável de memes sobre previsões murchadas, cobra autocrítica do PT.
Sim, autocrítica, aquele verbete político e midiático criado para açoitar exclusivamente o partido de Lula.
Palavra do universo persecutório da mídia cujo único objetivo é manter o petismo amarrado a uma eterna noção de erro.
Miriam é o retrato da imprensa golpista corresponsável por elevar a miséria, ampliar a desigualdade e dilapidar o patrimônio público brasileiro.
Apostou no triunfo de Mauricio Macri na Argentina. Errou. Enalteceu a economia chilena. Falhou.
A despeito da cobrança ao PT, ela ignora solenemente os fracassos sucessivos na análise da conjuntura latino-americana.
A imprensa queria um Lula preso ou inútil para convalidar a narrativa falsa com a qual ela tornou célebre um juiz bandido e elegeu um neofascista.
E se deparou com um político cuja injustiça sofrida abalou democratas no mundo todo, acordou parte do judiciário e cativou milhões de brasileiros.
Caberia à mídia rever os próprios erros e diferenciar com exatidão o petista e seu legado dos arroubos tirânicos do bolsonarismo – e o que as políticas de ambos representam para o país.
Tempo, ela teve. 580 dias.
Mas, pelo visto, não aprendeu nada com Lula na cadeia.