“Falta de rola” é a justificativa corriqueira, apesar de obtusa, intencionalmente usada pelos machos-alfa para referirem-se à conduta de mulheres combativas e firmes em suas posições.
A mulher que luta por equidade, eles dizem, só precisa transar, e essa afirmação não poderia fazer menos sentido.
Primeiro porque não padecemos de falta de rola: o problema é o excesso. Rolas no congresso, rolas nas artes, rolas nos partidos e nos movimentos, rolas não solicitadas no inbox, rolas ostentadas e oferecidas no frenesi da grande crise das masculinidades, rolas que sempre detiveram o poder e se metem em qualquer buraco sem serem convidadas (rolas brancas, para ser específica).
Segundo porque transar, nos moldes da heteronormatividade, está longe de ser uma atividade relaxante para as mulheres. Mais de 70% nunca gozou com um parceiro, embora o macho-alfa acredite que uma rola cheia de sangue é suficiente para adentrar o paraíso do prazer feminino.
A verdade é que eles sabem: mulher que goza é um perigo. Uma vez íntimas de seus corpos, começam logo a ter ideias de liberdade… daí para perceberem que sexo é mais do que rola, é um tapa.
É disso que o macho-alfa tem medo.
Mulher que goza sabe-se dona de si. Ela já entendeu que ninguém – nem o onipresente Deus cristão de olhos azuis – pode expulsá-la do paraíso, porque ela, em seu sagrado, é o próprio paraíso.
Ela se reconhece como sujeito, e não como instrumento de prazer – daí a se reconhecer como sujeito, e não instrumento da ciência, da arte, da política, da vida, enfim, é um tapa.
É disso que o macho-alfa tem medo.
“Não há nada mais perigoso para o sistema do que a liberdade de uma mulher”, escreveu Fernanda Young antes de nos deixar. Felizmente, essa liberdade tem sido gravada em nossa carne.
Entre os feminismos, cresce a ideia de explorar a própria sexualidade como ato revolucionário – o que inclui o desprezo absoluto ao falocentrismo embutido no modelo heteronormativo das relações.
Rodas de sagrado feminino estimulam mulheres a reconhecerem e amarem suas vulvas, a pornografia é questionada e reformulada para o olhar feminino, revolução e intimidade tornam-se uma só coisa, porque, na verdade, sempre foram. Siririca já é quase ato político.
O feminismo de terceira onda traz a revolução sexual em seu DNA: não é a nossa revolução se não pudermos gozar no final.
Porque, sim, feminista transa. Mas não – nunca – do jeito que o macho-alfa aprendeu.