Publicado originalmente no Tijolaço
Por Fernando Brito
Surpresa zero para quem já entendeu a forma com que Sergio Moro conduzia os processos de Curitiba, reportagem na Folha de hoje, feita em parceria com o The Intercept comprova o quanto foi exclusivamente politíca a divulgação do grampo telefônico – ilegal, diga-se – que “matou” a nomeação do ex-presidente Lula para a Casa Civil e, com ela, a última tentativa de evitar-se o golpe do impeachment.
Levantamento feito pela própria “Força Tarefa” da Lava Jato, ansiosa por encontrar argumentos para defender Moro deu resultado totalmente inverso ao esperado: em todos os casos de interceptações telefônicas determinadas por ele, em nenhum aconteceu a quebra total de seu conteúdo ou a anexação – muito menos imediata – dos áudios e transcrições ao processo, aberto deliberadamente a seguir.
O mais significativo no caso é a reação furiosa de Moro, dizendo que a Folha pratica ” sensacionalismo e revisionismo (?) ao divulgar o assunto e diz que fez o mesmo em “dezenas e dezenas” de casos, sem os citar. Diz ainda, entregando sua intenção, que a divulgação imediata se justificaria por que “estaria em curso tentativa espúria de obstrução da Justiça”, que se materializaria com a jurisdição do STF sobre o caso. O que, aliás, nem se sustentaria, pelas decisões do Supremo de que o privilégio de foro não se aplica para fatos anteriores à investidura em cargos que o prevêem.
Destaque-se que, àquela altura – março de 2016 – Lula sequer era réu: a denúncia do MP sobre o caso do apartamento no Guarujá só seria apresentada – e aceita, de imediato – em setembro daquele ano.
Moro diz que a reportagem que revela seu desvio de comportamento no caso é feita com “intenção de invalidar sentenças de criminosos”.
Pode ser, porque é criminoso um juiz assumir posições politicamente militantes no curso de um processo sua responsabilidade, usurpar poderes do Supremo ao investigar um Presidenta da República e usar grampos ilegais para atingir objetivos políticos.
A lista de razões para a anulação do processo de Lula, quanto mais adiam a decisão sobre isso, maior fica.