Não faz muito tempo, um banco bloqueou a conta de Julian Assange, do Wikileaks. Isso fazia parte de um movimento destinado a dificultar sua vida.
Havia um punhado limitado de dinheiro ali.
Outras empresas também cercaram Assange e o Wikileaks. Ficou virtualmente impossível fazer doações pela internet ao Wikileaks.
Apenas para relembrar. Telegramas vazados pelo Wikileaks sobre o corrupto governo da Tunísia foram importantes no desencadeamento da Revolução do Jasmim.
Nos telegramas, diplomatas americanos na Tunísia diziam a seus chefes nos Estados Unidos: “A corrupção no círculo íntimo do governo está crescendo. Mesmo tunisianos médios sabem disso, e as reclamações estão crescendo. Os tunisianos detestam a primeira dama Leila Trabulsi.” O que os diplomatas recomendavam fazer? Nada. “Não podemos descartar a Tunísia”, eles justificavam. “Há muito em jogo. Temos interesse em evitar que o Al-Qaeda estabeleça uma base no país.”
Foi nesse quadro que um vendedor de frutas de uma cidadezinha da Tunísia ateou fogo ao próprio corpo depois de ser impedido de trabalhar e de receber bofetadas de uma policial. Cartazes dele foram empunhados pelas massas que derrubaram pacificamente o governo. O mártir morreria 18 dias depois de seu gesto de revolta. Quatro dias depois, uma ditadura de mais de 20 anos estava encerrada.
Por que agora nenhum banco congela a conta – multimilionária — dos ditadores árabes?
A Suíça bloqueou movimentações nas contas de Mubarak e gente ligada a ele, é verdade. Fizera antes o mesmo em relação ao regime deposto da Tunísia. Mas foi uma ação do governo — não dos bancos.
A imagem das grandes empresas – o chamado big business – é ruim. Elas transmitem a impressão de que estão preocupadas apenas com elas próprias.
A absurda diferença de tratamento dispensado a Assange e aos ditadores apenas reforça uma imagem em pedaços.