Publicado originalmente na Rede Brasil Atual
A periferia é um “território de exceção” e isso explica a chacina realizada em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, no último domingo (1º), avalia a urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) Raquel Rolnik. A falta de reconhecimento do direito ao lazer do jovem periférico e a ausência de incentivos por meio de políticas públicas “implicam no genocídio”.
A urbanista afirma que ação policial que deixou nove mortos não é isolada, mas um modus operandi do Estado. Ela lembra de casos, como o da jovem que perdeu um olho, durante uma ação da Polícia Militar num baile funk na zona leste, em novembro deste ano. Em 17 de novembro de 2018, três jovens morreram pisoteados em um baile funk em Guarulhos, no bairro dos Pimentas.
“É uma política urbana que claramente discrimina uma das formas de construção da cidade, a partir dos repertórios de quem mora nela, se configura como um território de exceção. As ações policiais, seja num baile funk ou de combate às drogas, implica num genocídio de quem está lá. Muitas pessoas dizem que o pancadão é horrível. Ele é incômodo, claro, mas há outros lugares igualmente incômodos na cidade que têm um tratamento diferente. A melhor forma de melhorar a condição desse baile é entrar matando?”, questionou Raquel Rolnik, em entrevista ao Jornal da USP.
A especialista acrescenta que são nos bailes funk onde os jovens periféricos exercem seu direito à cultura e lazer. Na avaliação dela, falta uma política pública para melhorar a estruturação desses eventos. “Há uma necessidade de apoiar a produção desse tipo de cultura em melhores condições, com mecanismos de mediação com os moradores locais. Existem formas desse lazer acontecer na cidade numa condição melhor, mas é preciso reconhecer os direitos dessas pessoas, o que não está acontecendo. Isso não ocorre por um elemento racista do Estado”, criticou.