Liberação de agrotóxicos no Brasil pode prejudicar exportações à União Europeia

Atualizado em 10 de setembro de 2020 às 8:47
No ano passado, foram registrados 450 agrotóxicos — Foto: Agência Brasil

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A autora do Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, professora Larissa Mies Bombardi, avalia que o governo Bolsonaro pode estar dando “um tiro no pé” com a liberação descontrolada do uso de agrotóxicos no país. Apenas este ano foram autorizados 382, maior quantidade desde o início da série histórica, em 2004. Ela teme que isso possa prejudicar a exportação para países que têm regras rígidas quanto à presença de resíduos de agrotóxicos nos alimentos, caso da União Europeia (UE).

“O Brasil é o quarto maior fornecedor de alimentos à União Europeia. Quase 80% dos produtos alimentícios oriundos do Brasil que chegam na UE tem algum resíduo de agrotóxico e 10% tem resíduos acima daquilo que é permitido. Esse dado reforça a ideia de que essa liberação pode ser um tiro no pé”,  afirmou a professora, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Larissa avalia que a UE pode passar a restringir a entrada de produtos brasileiros, sobretudo porque alguns dos agrotóxicos liberados aqui são banidos por lá. Além disso, outras questões podem provocar impacto. “O governo está colecionando tiros no pé. O avanço do desmatamento, das queimadas, a violência contra os povos indígenas. Questões de direitos humanos, questão ambiental e a coroação com essa tragédia socioambiental que é a liberação dos agrotóxicos. Dos 10 agrotóxicos mais vendidos no Brasil, três são proibidos na UE.”

Ela lembra ainda que quando o Atlas foi lançado em Berlim, em maio, houve um choque com a revelação de que o Brasil admite a presença de resíduos do herbicida Glifosato na água em nível 5 mil vezes maior ao que é permitido na União Europeia. A professora espera que a pesquisa apoie a criação de um marco regulatório internacional para agrotóxicos, “para combater essa assimetria que existe hoje”.