Destruir a universidade pública é uma prioridade pra esse governo. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 12 de dezembro de 2019 às 13:46
Abraham Weintraub. Foto: MARCELO CAMARGO/ABR

POR LUIS FELIPE MIGUEL

Ontem, na Câmara, o ministro da Educação mostrou novamente quem é. Um bufão, um incompetente, um mentiroso. Mas não nos enganemos. Há método no que ele faz – o método da canalhice, mas nem por isso carente de efetividade.

A campanha de mentiras absurdas que ele promove contra as universidade públicas cumpre dois propósitos. Primeiro, busca blindar Weintraub e o governo ao qual ele serve contra as críticas que partem dos especialistas formados e das pesquisas produzidas nas universidades, desqualificando-as a priori.

Depois, busca anular um dos efeitos positivos esperados da democratização do acesso ao ensino superior, que os governos petistas promoveram. O contato com novas visões de mundo, que os jovens que chegavam às universidades teriam, alcançaria também as suas comunidades de origem, nas quais eles desfrutariam do prestígio de estarem estudando em instituições de ponta.

Ou seja: além de introduzir, no debate acadêmico, perspectivas periféricas comumente deixadas de lado, a democratização do acesso à universidade contribuiria para fazer circular, nos ambientes populares, uma parte dos saberes produzidos na academia. Com impacto previsível em questões como, por exemplo, o enfrentamento aos preconceitos de gênero.

Agora, este jovem é visto como alguém que está potencialmente sendo convertido ao satanismo, ao uso de drogas, à perversão sexual. A capacidade que ele tem de incidir na sua comunidade é bloqueada.

As universidades federais são perfeitas? Claro que não.

O fato de que Weintraub conseguiu se tornar professor de uma delas já basta para provar que o sistema tem problemas.

Mas satanismo, aulas com gente pelada e drogas estão longe de ser problemas importantes nas universidades. Aliás, se realmente houver algum culto satânico em algum lugar, está perfeitamente coberto pela liberdade de crença religiosa…

Weintraub desvia a atenção dos problemas reais das universidades, muitos dos quais deliberadamente agravados por ele. E nos coloca na defensiva, impedindo que avancemos no nosso próprio debate sobre práticas a serem corrigidas na vida acadêmica.

Parece não haver solução, exceto pelo #ForaBolsonaro. Mesmo que Weintraub seja eventualmente demitido, não virá alguém melhor.

Afinal, destruir a universidade pública é uma prioridade pra esse governo. Para a turma de Guedes, ela não tem utilidade – no país subalterno e atrasado de seus sonhos, nós não produzimos conhecimento. E para os fascistas e os fundamentalistas, a ampla coalizão que vai de Moro e Heleno a Weintraub e Araújo, ela é uma ameaça.