No início da noite de ontem, estudantes ocuparam a escola Lênio Vieira de Moraes, em Barueri (SP).
O caso teve repercussão imediata devido a desinteligência daquele que é o fator de ignição de confusão de 10 em cada 10 episódios: a PM.
De maneira truculenta, desrespeitosa e cometendo abusos de autoridade, um policial destrata a professora Ângela Soares e, descontrolado, dá a carteirada:
“Aqui é polícia, beleza?”
E daí? Ela é professora, cidadã, e não se intimidou. Exigiu respeito, exigiu que ele não falasse naquele tom e que não colocasse as mãos nela.
Palmas para a professora que lá estava em apoio e proteção aos alunos que protestavam contra o fechamento da escola e transferência para locais distantes.
O vídeo do policial viralizou rapidamente e o caso chegou ao governador João Doria que, ainda na madrugada, ordenou o recuo na decisão.
O memorando foi assinado pelo secretário de Educação, Rossieli Soares da Silva, afirmando atender a reivindicação e ‘assegurando’ não fechar a escola (aqui o documento: SEDUCMEM201919077A).
A ver.
Doria é mais inteligente e ágil do que o morfético Geraldo Alckmin Doria. Percebeu que a ocupação – somada ao desequilíbrio do policial durante a abordagem – poderia ser o começo de algo maior.
2015 também começou com uma única escola e menos de dois meses depois já eram mais de duzentas ocupadas em todo o Estado.
E o tema Educação permanece tão sensível que pode ser o estopim para grandes manifestações.
O protesto de ontem revela que a pauta dos estudantes se mantém atual. A reforma do ensino proposta na gestão Alckmin, rejeitada veementemente, continuou sendo colocada em prática mesmo depois do acordo firmado entre o então governador e os secundaristas para que as ocupações se desfizessem.
Os alunos desmobilizaram o movimento, mas o governo não cumpriu sua parte e continua fechando salas e escolas inteiras.
Na semana passada, o diretório regional de ensino de Taboão da Serra decidiu pelo fechamento do período noturno em algumas escolas. Um abaixo-assinado com 472 assinaturas de professores foi protocolado.
Os docentes querem a manutenção do período noturno bem como a ampliação da EJA para o segundo ciclo do ensino fundamental.
Um ato de apoio aos estudantes de Barueri já estava marcado para a manhã de hoje e se espalhou pelo Facebook. Coincidentemente, um ato em Taboão pelos motivos acima também estava agendado para hoje.
O governador Doria foi rápido no gatilho. Esses protestos poderiam se transformar em rastilho de pólvora.
A educação pública em São Paulo – como em todo o país – sofre ataques de todos os lados visando sua precarização e extinção. Seja com desvios de verbas da merenda, seja com a não entrega de materiais didáticos, seja com a falta de manutenção em instalações, seja com o gradual fechamento de salas e turmas.
Mas estudantes e professores parecem que não se intimidam mais e podem virar esse jogo.