Publicado originalmente no blog Tijolaço
POR FERNANDO BRITO
Bernardo Mello Franco, na edição de hoje de O Globo, trata do que boa parte da imprensa cuida apenas com meias-palavras.
O chefe de Queiroz era Jair [Bolsonaro].
Jair é um velho parceiro de Fabrício Queiroz, apontado como operador da rachadinha do Zero Um. Quando os dois ficaram amigos, Flávio tinha apenas 3 anos. O ex-PM estava lotado no gabinete do filho, mas seu verdadeiro chefe era o pai.
“Conheço o senhor Queiroz desde 1984. Nós somos paraquedistas. Nasceu ali, e continua, uma amizade”, disse Bolsonaro quando o escândalo veio à tona. Em maio, ele contou que o amigo lhe pediu ajuda quando enfrentava “problemas” na polícia. “Aí ele começou a trabalhar conosco”, relatou, usando a primeira pessoa do plural.
O velho amigo pode ter “assinado” que recolhia o dinheiro de servidores – ainda está obscuro como era coletado o da “família” – mas ainda não explicou, objetivamente, para onde ia esta bufunfa.
Sabe-se que ela saía em dinheiro vivo, mas nem sempre.
E neste nem sempre está o cheque depositado na conta da mulher de Jair: R$ 24 mil. Tão patentemente registrado que o presidente logo disse tratar-se da devolução parcial de um empréstimo de R$ 40 mil feito por ele ao amigo “em dificuldades”.
Completada a prova de que dinheiro – ao menos para girar – na conta de Fabrício Queiroz, há perguntas inevitáveis e, talvez, irrespondíveis.
- Que compromissos deixaram “em dificuldades” Fabrício Queiroz?
- Quando, onde e como foi feito o empréstimo? Ninguém anda com R$ 40 mil em espécie e os tem prontos, no bolso, para socorrer o amigo. Há uma entrada de recursos na conta do ex-PM que o comprove? Há pagamentos de alto valor feitos com estes recursos por Queiroz?
- Como ( se) foram pagos os outros 16 mil (admitindo-se que não havia juros) emprestados?
Em meio a chocolates e apartamentos, isto ficou até agora de lado no noticiário, mas não pode ter escapado de investigadores que têm acesso livre às movimentações financeiras do amigo de Jair Bolsonaro.
Não há investigação possível sem o velho e eficiente follow the money, o “siga o dinheiro”
Mais cedo ou mais tarde o caminho que ele tomou virá à tona.
Mas antes de emergir, haverá mais do mergulho dos Bolsonaro nas águas escuras da milícia.