O avô de Roberto de Oliveira Campos Neto era tão americanista, vaidoso e egocêntrico que gostaria de ter sido presidente do FED, o Banco Central dos Estados Unidos. Foi ajudante dos generais na ditadura brasileira.
Consagrou-se como Bob Fields, o guru do liberalismo verde-amarelo, um economista que estudou filosofia, um sujeito literário, frasista e metido a engraçado.
Pois o neto de Roberto Campos preside o Banco Central que o avô ajudou a criar. O avô convivia na ditadura com Delfim Netto, Simonsen, Bulhões, Severo Gomes, Jarbas Passarinho, Leitão de Abreu, Reis Veloso, Andreazza.
O neto enfiou-se numa selva com Paulo Guedes, Damares Alves, Onyx Lorenzoni, Sergio Moro, Ernesto Araujo, Augusto Heleno, Abraham Weitraub, Ricardo Salles. É um confronto desigual.
O avô foi ministro do Planejamento de Castelo Branco e desfrutou da sabedoria de alguns gênios do conservadorismo. O neto, mesmo que se diga que o Banco Central é ‘autônomo’ e desgrudado do resto da estrutura de Estado, é parte de um poder sustentado pela extrema direita e com fortes vínculos com facções de milicianos.
Esses dias, talvez estimulado por Bolsonaro para que começasse a falar, o neto de Bob Fields, até então em silêncio, afirmou à repórter Andréia Sadi, na Globo News, que os fundamentos da economia são sólidos e que o país caminha em direção à estabilidade e à recuperação, tudo sob controle da autoridade monetária.
E disse o que o avô, sempre preocupado com a qualidade da fala e a estética da escrita (foi um bom memorialista da economia brasileira, integrou a Academia Brasileira de Letras), nunca diria. O neto disse que o Brasil estava preparado para sair do círculo vicioso e entrar no círculo virtuoso. É ruim, é pobre, é quase raso.
O avô de Roberto de Oliveira Campos, um homem fino, ficaria envergonhado ao ver o neto repetindo uma frase simplória,
gasta em discursos de prefeitos de cidadezinhas.
Mas esse é o momento brasileiro. O herdeiro de Bob Fields integra uma equipe de medíocres, que poderia até ser aceitável, se fosse de medianos esforçados e conectados com alguma racionalidade como figuras públicas.
O neto de Roberto Campos é colega de fundamentalistas que acreditam na Terra plana, que destroem a Amazônia, perseguem índios, desprezam o aquecimento global e que, como ‘liberais’, conspiram até contra própria a ideia de globalização.
Bob Fields debochava do atraso do Brasil e via no que seria uma esquerda iletrada a expressão de um país retardatário em relação às modas da economia mundial.
O que ele diria hoje do governo terraplanista que acolheu o neto como gestor da moeda e dos juros de uma economia morta?
O que o velho Bob diria ao saber que o neto é autor de um plano de socorro aos bancos que ameaçarem quebrar, uma rede de proteção com dinheiro público, algo impensável desde o escândalo do Proer no governo de Fernando Henrique?
Pobre Bob, se visse o neto liberal misturado a um ministro da Justiça que defende indulto de Natal para policiais condenados por assassinatos. No que virou o poder no Brasil do neto de Bob Fields.