Publicado originalmente no blog do autor
As chances de Sergio Moro ser um dia ministro do Supremo passaram a ser as mesmas de Rodrigo Maia subir os primeiros 500 metros do Everest, mesmo com tubo de oxigênio.
Sergio Moro foi condenado a dançar com Bolsonaro até o dia em que um suportar o bafo do outro, e quando um deles decidir saltar fora e abandonar o baile. Hoje, os dois estão grudados.
Quando se soltarem, Moro será obrigado a assumir sua nova atividade de alto risco, a de político profissional que pode em 2022 se tornar candidato a presidente da República.
Não era esse o destino que o ex-juiz almejava. Moro deixou a magistratura por que desejava ser ministro do Supremo e sentar-se ao lado de Luís Roberto Barroso.
Sim, sabemos que Celso de Mello, o ministro que vai se aposentar em 2020 (e que Moro poderia substituir, mas não vai) senta-se na ponta esquerda, ao lado de Gilmar Mendes.
Mas Moro já havia planejado que pediria para trocar de lugar com Alexandre de Moraes, para que pudesse sentar-se ao lado Barroso, o amigo da Lava-Jato.
O ex-chefe de Dallagnol já sabe, e todos nós sabemos, que ele não terá essa chance. Moro foi empurrado para a arena da rinha, para as primeiras eliminatórias, e somente sairá dali como sobrevivente ou derrotado e todo lanhado.
O ministro de Bolsonaro ocupou a mesma faixa do eleitorado do chefe e cometeu assim seu mais grave erro. Essa é a faixa não só de Bolsonaro, mas também a de Witzel.
Hoje, Bolsonaro disse que, se Moro decidir ser candidato, “o Brasil estará em boas mãos”. Bolsonaro deflagrou, por maldade e para queimá-lo, a campanha do seu ministro da Justiça.
São dois os recados, pelo menos para consumo externo: que, definitivamente, o subalterno não mais será indicado ao Supremo e que a partir de agora ele terá de se virar nos 30 como político.
Bolsonaro está dizendo a Sergio Moro: faça bom uso da sua popularidade do jeito que for possível, inclusive atacando minha decisão favorável à criação do juiz de garantia, porque o jogo será pesado.
O ex-juiz foi entregue publicamente por Bolsonaro aos predadores da extrema direita.