Quem é Eduardo Fauzi, o homem que colocou fogo no Porta dos Fundos e adora aparecer. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 2 de janeiro de 2020 às 11:25
Fauzi, quando foi preso depois de dar um soco no secretário municipal da Ordem Pública do Rio de Janeiro

Eduardo Fauzi Richard Cerquise, apontado pela polícia como um dos autores do atentado terrorista ao Porta dos Fundos, teve seus quinze minutos de fama em novembro de 2013, quando acertou pelas costas um violento tapa no então secretário de Ordem Pública do Rio de Janeiro, Alex Costa.

O secretário começou a dar entrevista quando Eduardo Fauzi gritou “mentira” e deu golpe covarde. Foi contido por guardas municipais e algemado. Liberado pela Justiça, voltou ao estacionamento e deu entrevista a um canal da internet, em que se vangloriou:

“Foi a tapa mais bem dada que eu já pude dar na minha vida. Tenho certeza de que a minha mão teve o peso de um milhão de pessoas que foram removidas irregularmente, tiveram suas mercadorias apreendidas e não puderam se defender pelos meios adequados. Eu tenho certeza de que muita gente se sentiu autor daquele tapa.”

O episódio parece definir a forma como Fauzi encara a vida em sociedade: as coisas estão erradas e ele se sente autorizado a resolver essas questões com as próprias mãos. É a lógica do miliciano, que o aproxima do grupo que hoje está na alta esfera de poder, o governo federal.

Os pontos em comum são vários. Na casa dele, foi encontrado o livro que é uma espécie de bíblia do bolsonarismo, o Imbecil Coletivo, de Olavo de Carvalho. Fauzi também foi filiado ao PSL, bem antes de Bolsonaro entrar no partido.

Assim como Bolsonaro no passado, a atuação de Fauzi tangenciou o neonazismo. Enquanto Bolsonaro teve apoio de grupos francamente adeptos das ideias de Adolph Hitler, Fauzi contou com a defesa do advogado fluminense Eduardo Banks, em um habeas corpus.

Banks já tinha entrado na Justiça contra uma hipotética caça pela Polícia Federal dos ex-dirigentes nazistas Martin Borman e Alois Brunner, e também tentou garantir, pela via judicial, a publicação no Brasil do livro Os Protocolos dos Sábios de Sião, considerado antissemita.

Banks também tentou obrigar a Folha de S. Paulo a suprimir da internet o parágrafo de uma reportagem que o relacionava a uma proposta para indenizar os descendentes dos donos de escravo por conta da abolição.

O homem a quem Banks tentou ajudar com o habeas corpus também tem uma atuação em organizações que pregam o enfrentamento a grupos de esquerda. Na internet, ele aparece dando aulas em uma tal de Accale – Associação Cívica e Cultural Arcy Lopes Estrella, referência a um militante da Ação Integralista Brasileira, nos anos 30.

No Facebook, o grupo diz que não é de direita nem de esquerda. “Buscamos boas ideias, venham de onde vierem. Não nos interessam as vias do progressismo ou do liberalismo. Nacionalismo, o único caminho!”, escreve.

Hoje, a entidade publicou uma nota para dizer que não tem uma relação com o atentado.

Um dos vídeos divulgados pela Accale mostra homens de camiseta preta em ato para queimar a bandeira do Partido Comunista, depois de fazerem uma oração. Na passeata até o local da queima, alguns seguram a bandeira republicana do Brasil e outros, a do Império.

Fauzi teve a prisão decretada e seu endereço foi alvo hoje de busca e apreensão. É considerado foragido, mas ele parece ter deixado propositalmente rastro para a polícia o identificar.

Ele tirou a máscara depois do atentado terrorista ao Porta dos Fundos e uma câmera mostrou seu rosto.

Há três dias, uma fonte enviou ao site GGN a ficha completa dele e das entidades de que participa — além da Accale, é membro de um tal Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira.

Na reportagem do GGN, é publicado um vídeo em que ele, com voz distorcida, reivindica a autoria do atentado contra o Porta dos Fundos.

“Nós, do Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira, reivindicamos a ação direta revolucionária por justiçar os anseios de todo o povo brasileiro contra a atitude blasfema, burguesa e antipatriótica que grupo de militantes marxistas culturais Porta dos Fundos tomou quando produziu seu especial de Natal a mando da mega corporação bilionária Netflix”, disse.

A distorção da voz foi feita de um modo tão primário que o internauta Jorge Alberto corrigiu o áudio e desmascarou o homem que assumiu o ataque à produtora.

Em sua rede social, Jorge escreveu que “o fascismo e a burrice andam lado a lado”. E explicou: “Peguei o vídeo dos integralistas terroristas e corrigi o pitch do áudio, que deveria estar cruzado com dois tons, agudo e grave, mas só tem a grave. Caminho livre pra ouvir a voz original dos caras. Eu não vou rir sozinho”, disse.

É possível que Fauzi quisesse mesmo ser identificado. Ele gosta da exposição. No YouTube, tem um vídeo em que Fauzi aparece como parceiro da dançarina profissional Anna Cherneykina.

Eduardo Fauzi e Anna Cherneykina

Em outro vídeo, disse que é formado em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas o único registro público dele em relação à instituição é o resultado do vestibular, em que tirou notas baixas: 3,25 em Português, zero em Biologia e 2,5 em Física, por exemplo.

Fauzi pode ser um desequilibrado mental com ambições de Narciso, mas tem um dado que não permite essa conclusão: a polícia encontrou R$ 116 mil em dinheiro vivo no seu endereço.

Um ex-guardador de carro, por mais esforçado que fosse, não conseguiria juntar esta quantia.

Se a polícia quiser saber mais sobre ele, deve seguir o rastro do dinheiro. O problema mais grave pode não ser ele e seu comportamento de miliciano, mas quem, eventualmente, o patrocina.

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O vídeo em que ele fala da agressão ao secretário:

Veja o vídeo dele com a dançarina Anna Cherneykina: