O que este caso conta sobre relações abusivas.
O texto abaixo é de autoria da jornalista Julia Duarte.
Violência doméstica não é apenas aquilo que acontece dentro da sua casa e ninguém vê. É qualquer ato violento cometido pelo seu parceiro, seja você casada ou não.
A chef inglesa Nigella Lawson foi sufocada pelo marido milionário Charles Saatchi, colecionador de arte, em um restaurante em Mayfair, bairro nobre de Londres.
A explicação do marido não surpreende: disse que estava apenas querendo dar ênfase do seu ponto de vista com relação aos filhos.
Enforcando a mulher em plena luz do dia?
O abuso cometido em local público torna a humilhação ainda maior.
Nigella é bonita e bem-sucedida. E o que a sociedade espera dela é o seguinte: mulheres ricas não têm o direito de serem infelizes pelo simples fato de terem privilégios que poucas têm.
É uma atitude irrealista da sociedade e, principalmente dos maridos, esperar que a mulher rica não se aborreça, além de ser também desrespeitosa.
Nigella uma vez pediu desculpas publicamente quando não devia. Ela perdera o primeiro marido e a ideia de estar feliz era, para ela, imperdoável.
Depois de nove meses da morte por câncer de seu então marido, o jornalista John Diamond, ela se casou novamente com Saatchi.
Ele escreveu um livro cujo título diz bastante. “Be the worst you can be: life´s too long for Patience & Virtue”. Seja o pior que você pode ser: a vida é muito longa para Paciência e Virtude.
Ninguém deve se desculpar pelas próprias escolhas porque muitas vezes somos os únicos a lidar com as consequências.
Mas a pergunta que fica é: por que as mulheres independentemente de idade, credo, raça, classe social ou religião têm dificuldade em largar relações abusivas?
São casos em que permanecer na relação é mais simples? O famoso é mais fácil começar do que terminar. Muitas mulheres temem a possibilidade de, deixando a relação, nunca mais ver os filhos.
O medo entra como fator decisivo e se torna maior do que a vontade de ir embora.
A ligação entre violência doméstica e carência é tênue.
Mulher carente e com medo de ficar sozinha simplesmente aceita o que vier, é um troféu social ser casada.
Baixa autoestima pode ser outra boa resposta à pergunta. Autoestima tem muito a ver com o juízo de valor que fazemos de nós mesmos.
Se a nota que nos damos é baixa, nos sentimos inferiores ao outro. Se ela é muito alta, pode ser confundida com arrogância.
Controlar o looping desta montanha russa emocional é tarefa difícil, mesmo para os mais maduros emocionalmente.
Ficam à mercê de elogios e críticas para fazer a autoavaliação.
O homem abusivo tem apenas uma intenção bem definida, a de colocar a mulher para baixo e afastá-la de tudo que realmente é importante: saúde, trabalho, família e amigos.
Não importa se o abuso é físico ou verbal, o resultado final pode ser catastrófico.
Quando não termina em morte, as feridas que demoram a cicatrizar vão além do físico, são as psicológicas. A faxina emocional é lenta e dolorosa. Bem maior do que o luto de terminar uma relação.